quarta-feira, 29 de junho de 2011

NUM DIA CHUVOSO

Pintura de Merle Keller






Chovia... Era uma chuva densa, de pingos grossos. Daquelas chuvas de verão que nos pegam de surpresa, sem nenhum guarda-chuva na bolsa. A roupa rapidamente se encharca e provoca na pele um leve arrepio. Pessoas correm de lá para cá, num alvoroço. A chuva costuma provocar esse tipo de reação. Parece que as pessoas podem se liquefazer quando expostas a água. Mas eu não sou diferente não. Procuro também por um abrigo, um lugar qualquer para me proteger. Encontro um barzinho aconchegante e cheirando a café e bolinhos recém saídos do forno.  É tudo que preciso agora... Está bem cheio, será que todos tiveram a mesma idéia que eu? Procuro uma mesinha discreta, pois não gosto de ficar muito exposta. Prefiro as mesas de canto, onde tudo vejo, mas não me torno o foco. Peço a garçonete o cardápio. Hum, quantas delícia tentadoras! Por que tudo que é gostoso engorda? Coisas de mulher. Sempre preocupada com a silueta. Ah, esquece, hoje é um dia incomum. Relaxa... Olho o cardápio com olhos de desejo, indecisa. Acabo optando por waffles com mel acompanhado de uma boa xícara de chocolate quente e cremoso. Que delícia! Enquanto aguardo meu pedido, olho ao redor, como boa observadora que sou. Não gosto de ser observada, mas gosto de observar. No café existem as pessoas mais diversas. Acompanhadas e sós, como eu. Em cada rosto uma expressão, em cada olhar uma visão, em cada gesto um pouco de cada um. As pessoas se diferem por tantos detalhes... Um gesticular excessivo de mãos ( as extrovertidas demais) ou até um não saber onde colocá-las (as excessivamente tímidas). Um olhar evasivo ou invasivo. Aquele olhar que olha e não vê, que parece passar através de você e aquele outro que parece te dissecar alma. Ui... desses eu fujo! Vozes contidas, comedidas, baixas e calmas e outras explosivas, altas e espalhafatosas, como se quisessem todas as atenções para si. Pessoas... cada qual com suas características tão peculiares, tão únicas.  Detalhes de um ser que se desvenda perante o mundo, em seus meandros, em suas vestes, em sua postura, em seus gestos, em seu olhar, em seu falar (ou calar). Cada ser humano é um mistério a ser desvendado. Cada ser humano é um universo em si. E é justamente isso que o torna tão instigante e rico.





Ianê Mello 

6 comentários:

Lou Albergaria disse...

Lindo seu texto, Ianê! E muito verdadeiro também. Confesso que adoraria ser mais discreta. Mas é tão difícil ir contra a natureza...rsrs

Beijos!!!

Dilmar Gomes disse...

Amiga Ianê, muito boa a tua crônica.
Querida, tens criado bastante nos últimos dias.
Um abraço fraterno. Desejo-te uma boa noite.

Dalila Pinheiro disse...

Olá Ianê,

Gostei muito do seu blog, da sensibilidade e emoção que encontro nos textos e do requinte na escolha das fotos. Fiz um blog recentemente,
http://segredosdocorao.blogspot.com/
quero postar alguns textos seus com os devidos créditos, se me permite.
Um dia maravilhosos pra vc.
Dalila

Ianê Mello disse...

Lou, uerida, e porque ir contra sua natureza?
É ela que te faz única e especial.
Seus textos são lindos!
Nunca vá contra sua natureza, deixe-a fluir como um rio....

Grande beijo de que te admira.

Ianê Mello disse...

Amigo, Dilmar, vindo de você é sempre uma alegria receber o elogio, não vou negar.
Aprecio muito a sua escrita, você sabe.
Tanto que vivo te pedindo para fazer parte do blog Diálogos Poéticos e do Grupo do face " Livre Criar...".
Obrigada pela presença e carinho.
Grande abraço.

Ianê Mello disse...

Dali, seja bem vinda aos meus labirintos. Fico feliz que tenha gostado.
Claro que pode compartilhar meus textos, querida.
Vou visitá-la em seu blog.

Bom dia!
Grande beijo.