sábado, 29 de outubro de 2011

Lonely Love




amor solitário
na noite que avança
em desejos tardios
corpo que se entrega
a conhecidos carinhos
de mãos que são suas
já acostumadas
a se dar prazer
cansaço vencido
desejo satisfeito
corpo que queda
inerte e nu
entre almofadas
e em sua solidão
...

adormece.


Ianê Mello


Créditos de imagem: Pintura de  Malcolm T. Liepke

Mulher Esfinge




Lânguida
cabelos revoltos
acobreados
sobre lençóis de cetim
vermelhos
verdes e profundos
são seus olhos de mar
de fêmea
que espera
o seu homem
boca entreaberta
rubra
num convite
ao prazer
corpo nu
que se insinua
numa pose
sensual e convidativa
mulher fêmea amante
traz em seu corpo
promessas desejos
segredos...
decifra-me
ou te devoro...


Ianê Mello



Créditos de imagem: Pintura de  Malcolm T. Liepke


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A Espera do Adeus




Amantes nunca deveriam
dizer adeus
quando o amor 
ainda sorri
ante seus olhos
quando a paixão
ainda queima
por dentro
quando a chama
do amor
ainda brilha
mas o adeus
espreita com olhos ferinos
os momentos 
mal vividos
vívidos na memória
calando desejos
desatando laços
rompendo nós
e a ausência se faz
no correr das horas rotas
no beijo não dado
na palavra não dita
no amor não revelado
nos insanos pecados
por nós cometidos
na crueza da realidade
na maldita rotina.






Ianê Mello

O Homem que Amo



o homem que amo
já está ao meu lado
não preciso mais esperar 
ele é forte e puro
coração todo amor
em seus braços
me protege
me embala em doce sono
sonho acordada
nos braços 
do homem que amo
ele me olha e sorri
em nossa sintonia 
compreendemos o sentir
sem palavras...
juntos nosso lar
construímos
tijolo por tijolo
suor e lágrimas
amor e sorrisos
com argamassa
firme e seguro
não, não preciso esperar
nem domingo, nem segunda
o homem que eu amo chegar
...


Ianê Mello


Desejo de Amar




Me pega pelos flancos
me vira do avesso
me morde
me lambe
desvenda segredos...

desbrava meu corpo

...

sussurra em meu ouvido
beija minha nuca
me arrepia
o pelo, a pele...

...

me toma
em seus braços
me beija na boca
e eu
lânguida e entregue

sou tua...

perfumes, suores
exalam no quarto
cheiro de amor
nos lençóis
em nossos corpos


desejos guardados
na espera do tempo
os beijos sonhados
carícias precisas


em nós dois
o pecado
se perde de vista
no amor que invade

....

e fica.


Ianê Mello

Billie Holiday - My Man








Cálice Sagrado




em teu corpo fluir
corredeira
fluidificar suores
escorrer como veio
leito de rio
...
nas margens
mansamente
repousar
...
amores desejosos
sem freios
sem diques
rumo ao mar
...
liquefeitos ardentes
tremores vulcânicos
lavas incandescentes
...
leite derramado
cálice sagrado
vinho licoroso
entre pernas e delícias
gozos sem fim
...
urros
gritos
gemidos abafados
bicho solto
fera em mim


Ianê Mello


Créditos de imagem: Foto de Cartier Bresson



Norah Jones - Lover Man




AMANTES




Em teu corpo nu
passeia minha língua
úmida  
cada vez mais atrevida
sorvendo seu suor
perfumes, odores
inebriam a paixão
nossos corpos molhados
em êxtase
pernas que se entrelaçam
mãos que se buscam
bocas que se beijam
entorpecendo os sentidos
amantes na entrega
dança sensual
gemidos roucos
abafados
gritos emudecidos
entre dentes
explodem
em profundo gozo.

 
Ianê Mello

AVASSALADOR





Em teu corpo derramo suores
odores, perfumes
e minha flor se abre em pétalas
carnudas e doces
para em tua boca estremecer
derramar-se
em rios caudalosos
saciando tua sede
encontro de línguas
sedutoras e ousadas
que vorazmente sorvem
a delícia do gozo
em nossos corpos
saciados de amor.






Ianê Mello

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Palavra Viva




as palavras se perdem
...solitárias
sem ao menos serem lidas
o tempo corre...
o tempo morre...
...ninguém tem tempo

...

páginas viradas
emoções não contempladas
em branco passam...
o poeta sente
a solidão
da noite mal dormida
da expressão vã
de um sentir
sem ressonância

...

mas as palavras
teimosas em se expressar
voltam e pedem
para ganhar força
no branco papel
e o poeta-instrumento
sai de si e se debruça
e se rende ao seu encanto

...

ao menos poderia
o olhar que aqui pousa
ler essas poucas linhas
e dar-lhes a vida
de um sentir
compartilhado.

...

poderia?


Ianê Mello

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Se...





Se água tivesse nascido
escorreria em cascatas
sobre seu corpo


banharia seu suor
límpida e fresca
corpo amado


ao ser banhado
fresco e sereno
te amaria ao relento


em acordes doces
serenamente te preencheria
completude do amar






Ianê Mello

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Fora de Mim




Louca estou
a rasgar minha roupa
a gritar impropriedades
a vagar pelas ruas
completamente nua
exposta
olhos perdidos
vazios
sem controle
sem rédeas
cavalo solto
na garganta o grito
estrangulado
na alma o sentimento
encarcerado
peito cravejado
em solidões
fugas de mim
no poço sem fundo
o fim
vida que vagueia
impunemente
sem rumo
casa destelhada
minha frágil morada
ferrugem e pó
cactos retorcidos
tenho sede
corpo recolhido
entre os escombros
da vida
que jaz.

Ianê Mello


Créditos de imagem: Pintura de Ans Markus

Beleza de ser





Restringir a beleza no externo
é um grande erro de visão
Belo mesmo é o que por dentro
se esconde...
a mais pura revelação
Dentro de si ela se guarda
incólume e imaculada
pronta para ser sentida
aguardando ser amada
Tal beleza é singular
nem todos os olhos a vêem
há que se imaginar
o esconderijo secreto
descobrindo num lampejo
a luz que dela provem
beleza que irradia
que nada em si retem.




Ianê Mello

Sementes do Belo





Beleza que em si retem
a pureza do existir
aos olhos faz refletir
o olhar do outro alguém


Olhos que vêem além
do que a visão pode ver
Olhos de bem querer 
que por dentro se detêm


Beleza assim tão rara
guarda em si o brilho
como se fora um filho
como uma jóia cara


E quem dela se apodera
guarda em si o mundo
em seu íntimo fecundo
brotam flores-primavera.


Ianê Mello

MISCIGENADA






Sou branca da pele alva
mas nome de índia tenho
"minha e tua, de nós dois"
contra senso de meus pais
mas não me importa, não
tenho a raça no coração


Sou forte e bravia
sou de espírito guerreiro
gosto de pé no chão
e de uma rede pra balançar
influência do nome
podem dizer
numa chacota
pergunto, será?


Sou brasileira
e disso tenho orgulho
povo mais que sofrido
lutador, não perde a pose
mesmo morrendo de fome
preserva-se e sobrevive
nesses tempos de vacas magras


Sou feita de várias raças
sangue negro corre em minhas veias
portugueses, italianos e franceses
sou plural e mesmo assim única
humana como qualquer um
meio bicho, meio mulher
dócil e feroz
altiva e simples
sou de argila, barro, pó
e de estrelas incandescentes
sou viva, sou pecadora...


SOU GENTE.



Ianê Mello




Créditos de imagem: Pintura de Tarsila do Amaral

Menina- mulher





Como no céu a clara lua
refletindo sua imagem na água
revela em sua alma que desnuda
singela beleza que flutua
na pureza de uma gota orvalhada


Mulher- menina- rosa
em seus encantos decantada
em verso e em prosa
musa inspiradora dos poetas
em belos poemas retratada



Ianê Mello



ouça: Nuvens são cambraias (Improviso)
poema: Li T’ai Po
tradução: Haroldo de Campos
música: Madan
http://literapurablog.blogspot.com



domingo, 23 de outubro de 2011

Sem Máscaras





Tire essa máscara
dispa-se 
sem pudor
quero ver seu rosto
límpido e sem mácula

Olha-me nos olhos,
por dentro
que a vida passa
num átimo
de segundo

Joga fora
essa vergonha
se mostre
se exponha,
aos meus olhos
que te despem

Minha máscara,
vertida ao chão
se encontra
me olha, então,
me vê...

A beleza em mim 
se mostra
e busca 
esse encontro
entre você e eu.

Ianê Mello


Bem longe do paraíso

Pintura de John Collier "Lilith"


Fina pele de serpente
Doce e breve fantasia 
que ao olhar enfeitiça
Arisca e arredia 
sinuosa ela atiça
Mirando a sua presa
com destreza e cobiça
Conta ser experiente
nessa arte da conquista
Com falso sorriso mente
seduzindo a quem avista

De sua boca escorre
veneno doce e mortal
Quem provar dele morre
 e para ela é banal
Sua vítima escolhida
sem prever  sua manobra,
com os lábios num  sorriso
é picada pela cobra
 Destituída de seu juízo,
por um momento fugaz
sente-se acalentada
e nessa paixão voraz
de sua vida é privada


Ianê Mello



Gueixa

 


Eu queria ser uma gueixa
...deixa...
Seduzir-te com minha sutileza
Aos teus pés seria rainha
Fazendo-te crer meu senhor

Em teu corpo doces delícias
de mãos feitas para o amor 
te perdendo em carícias
te sentirias senhor

Na verdade, quando visses,
de mim tu dependerias
e serias capaz de tudo
Meu escravo tu serias

E nessa inversão de papéis
a regra se quebraria
de que a mulher foi feita
para ao homem dar serventia

Deixar-se vestir de gueixa
para ao homem iludir
e cumprir com seu propósito
de como mulher existir


Ianê Mello

 

sábado, 22 de outubro de 2011

OUTONO




Uma folha a cair
oscilando ao vento
amarelecida pelo tempo


é outono...


um quê de nostálgico
de melancólico
traz essa estação


sem árvores frondosas 
sem jardins floridos
apenas um tapete de folhas 
a cobrir o chão


folhas mortas
que um dia foram
verdes e viçosas
como num bailado
ritmado pelo vento
jazem ao chão


tudo tem seu tempo
de nascer, de viver e de morrer. 




Ianê Mello


Variantes de Mim Mesma





Percorro abismos
Poços profundos
Onde me perco
e fujo do mundo
Não basta ser 
é preciso coragem
Sair de fora
em longa viagem
para dentro

A mim me revelo
a cada instante
um pouco diferente
do que era antes
Cai mais uma máscara
e o rosto transparece
mais limpo, mais puro

Me miro no espelho
e nele reflete essa nova imagem
que nem sempre reconheço
mas que me pertence 
que de mim faz parte


Sou essa e sou outras
Sou uma e sou várias
Essa variável inconstante
Imperfeita e mutável
Nunca pronta e acabada
Essa sede de muito
Essa fome de tudo
Essa vontade de nada



Ianê Mello





Debussy - Clair de Lune

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

BEM VINDA



Eis que a verve poética
a mim retorna
como velha companheira
das noites insones
dos dias vazios
Por onde andou,
que caminhos percorreu
sem minha companhia,
não sei...

Hoje agradeço seu retorno
e que em minhas mãos vazias
novamente faça sua morada
em palavras, versos, verbo
minha voz se faça ouvir
pois que o silêncio
que em mim habitava
num despertar altivo
faz-se voz 


Ianê Mello

TEATRO DE MÁSCARAS










Máscaras a encobrir nossa face
Criadas pelo medo
que se instala no ser
obscurecido pela ausência
do verdadeiro eu

Emolduram o rosto
e em seu contínuo uso
nele tomam forma
De tal maneira
se incorporam e se amoldam
que torna-se difícil
vislumbrar a face original

No exercício constante do disfarce
a consciência de si mesmo
se perde pouco a pouco

No palco da vida
Personagens assumem seu papel
No diário teatro de máscaras

Ianê Mello


MULHER SEM ROSTO





Uma mulher sem rosto
quão misteriosa pode ser?
Sem olhos para expressar e seduzir
Sem o olfato para sentir os odores
Sem lábios para dizer o que sente
e beijar o corpo amado

O que é uma mulher sem rosto?
Sem identidade, sem expressividade,
apenas um corpo a usufruir?
Quão bela pode ser uma mulher sem rosto?
Se o seu rosto é a sua marca, a sua presença

Uma mulher sem rosto é apenas um corpo
Um corpo como outro corpo qualquer
Uma meretriz a mais para satisfazer 
os carnais desejos de um homem
Um homem que da mulher deseja
nada mais do que um corpo,
um pedaço de carne 
pra saciar seu apetite voraz.


Ianê Mello



Créditos de imagem: Pintura de Adolfo Paez.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Noite Estrelada







Salpicadas de amarelo
estrelas rebrilham em luz
como pontos no infinito
no azul anil do céu
e em meus olhos cintilam
sonhando sonhos acordada
na tela que a noite pinta.

Ianê Mello





Créditos da imagem: Van Gogh - Noite Estrelada