Pintura: Boy Viewing Mt. Fuji (1830) – Katsushika Hokusai
Sozinha em meu quarto
as palavras fluem
Um rio de sangue
que escorre quente
em minhas veias
e se derrama no papel
tingindo-o de vermelho-sangue
"Todo escritor precisa de paz para sangrar"
pois nesse momento ele se volta para si mesmo
Absorto em seus pensamentos,
em completo e absoluto silêncio,
ouve as batidas do próprio coração
Suas emoções afloram
Pode ouvir o grito de suas próprias dores,
seus devaneios, suas perdas, seus amores
seus conflitos, suas ilusões
Ele se percebe unicamente humano
Sua solidão se faz sentir
sem as interferências externas
que distraem a mente
e, por vezes, embotam os sentimentos
Nesse profundo encontro consigo mesmo
ele se descobre frágil, só, imperfeito
Caem as máscaras do dia a dia
Agora, é seu verdadeiro rosto que vê no espelho
e se sente nu, desprovido de qualquer proteção
e a ferida, então aberta... sangra.
Iane Mello
4 comentários:
Grande poema, amiga Ianê. Li há muito tempo, nem me lembro onde, algo mais ou menos assim: não se escreve poesia como quem vai à feira mostrar o vestido ou a calça jeans, ou ainda a grife do cabeleireiro...
Muito, muito bom!
Um grande abraço
Intenso, vivo teus versos, só sangra quem pulsa, quem pulsa com o coração.
Assim como só se pode amar nu, sem máscara, sem casca e sem pudor, pode o poeta emanar poesia. Não sendo assim; só vigora a industrialização nos compartimentos fabris do pensamento.
Lindo texto!
Bjs!
É o ofício do poeta: sangrar e fazer sangrar!
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