sexta-feira, 23 de setembro de 2011

NUMA MANHÃ DE INVERNO




Ela caminhava entre campos floridos e mal se destacava das demais espécies de flor. Margaridas, dálias, marias-sem-vergonha formavam um tapete colorido onde pousava seu olhar. Embevecido e atento procurava não perder de vista sua flor mais bela. Seus cabelos loiros reluziam ao sol com seu raios brilhantes. Ela virava a cabeça em sua direção e sorria, aquele seu sorriso encantador. Correndo feito criança entre as flores comemorava a chegada da primavera, a sua estação preferida. Ele, mero espectador, apreciava de longe esse lindo espetáculo. O amor pulsava em seu coração, lembrando-lhe que estava vivo. Sim, ela era responsável por essa gostosa sensação. O amor fizera-o renascer. Ele, que era só solidão e dor. Ele que já havia desistido de tudo.

Foi numa manhã de inverno. O frio era intenso e o vento cortante fazia o corpo estremecer. Ele estava sentado a mesa do café, observando o movimento das pessoas ao seu redor. Lá dentro a temperatura estava agradável e convidativa. Não demorou muito e estava lotado de gente. De repente a porta se abriu e ela entrou. Seus cabelos dourados e revoltos, em cachos pendiam sobre seu rosto avermelhado do frio. Chamou de imediato a sua atenção, não só por ser bonita, mas pela sua presença marcante e diferenciada. Ela olhava ao redor a procura de um lugar para sentar. Percebendo sua dificuldade, ele num ímpeto se levantou e acenou, apontando que a seu lado havia uma cadeira disponível. Ela devolveu-lhe um límpido e belo sorriso e veio em sua direção.

- Obrigada. Já estava desistindo.
- Imagina. sente-se. - ele disse, puxando a cadeira para ela.
- Acho que todos tiveram a mesma idéia, não?
- Também, com esse frio lá fora, nada melhor.
- É verdade. Meu nome é Cintia e o seu?
- Guilherme. É um prazer conhecê-la.- ele disse esticando sua mão para cumprimentá-la.

Quando apertou a mão de Cintia sentiu um calor envolver seu corpo. Podia sentir seu coração descompassado, batendo forte em seu peito. Manteve aquela mão fria entre as suas, não conseguindo desprender seus olhos dos olhos dela, de um profundo azul celeste. Ela permitiu esse contato, não fazendo esforço para livrar-se. Parecia estar compartilhando da mesma emoção daquele momento. Não sabe dizer quanto tempo ficaram assim. Perde-se a noção do tempo nesses momentos. Mas foi o suficiente para perceber que aquela mulher chegara para mudar sua vida. Quando se deu conta estava sorrindo, coisa que há muito ele não fazia. Ela, em retribuição, devolveu-lhe seu sorriso encantador.
Finalmente soltaram-se as mãos e ele foi o primeiro a falar:

- Cintia, realmente estou muito feliz em conhecê-la.
- Eu também estou, Guilherme.
- Por favor, peça o que quiser.- disse, chamando o garçom.

Dali para frente as palavras não foram mais necessárias. Seus olhares, em profunda conexão, diziam tudo .  Sentiam-se próximos um do outro. Mas tão próximos que tinham a sensação de já terem se conhecido antes, como se agora  estivessem apenas num reconhecimento recíproco. Quando terminaram ele pediu a conta. Buscou as mãos dela sobre a mesa e segurou-as firmemente entre as suas. Não queria se separar dela por nada nesse mundo. Falou, então, sem medo de uma recusa. Ele que era tão tímido e inseguro:

- Fica comigo, Cintia?
- Não posso pensar em outra coisa, Guilherme. - ela responde num sorriso.

Ele se levanta e a ajuda a colocar seu casaco e echarpe. Dirigem-se para a saída. O frio lá fora já não parece tão intenso. Ele levanta seu queixo e beija-lhe suavemente a boca rosada. Envolve sua cintura, puxando-a para si. Ela recosta docemente a cabeça em seu ombro. Gestos tão íntimos e tão naturais para eles. Caminham assim, abraçados, sem pressa, pela rua molhada de chuva. Cada momento é para eles único e se eternizará no tempo.


Ianê Mello

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