terça-feira, 31 de janeiro de 2012

PORTA FECHADA


                                         


Eu grito
grito para as paredes
que não respondem
grito para ouvidos
que são surdos...


entre quatro paredes
aprisionada
sem janela para respirar
e uma porta fechada
um corpo fechado
na dor de ser


grito...
um grito sentido
um grito catártico
um grito de dor
um urro animalesco


mas a porta fechada
não se abre
...
meu grito não será ouvido


longe de tudo
longe de todos
tão longe que nem sei
aonde eu estou
longe até de mim mesma
do que em mim reconhecia
nisto em que me tornei


- SOCORROOO!!!!!!!!!!!!
Preciso que me escutem!


não, ninguém pode escutar
todos estão muito longe
todos estão alheios 
dentro de si mesmos
... encimesmados


Grito, grito, grito...
até calar minha própria voz 
que vem de dentro
até gastar as palavras...


Grito até perder a voz


mas todos estão tão longe
você está tão distante
sequer me vê
tampouco me ouve


mas grito mesmo assim
o que me resta
além do grito?

essa angústia no peito
essa dor que me consome
essa vida que não me vale?


Porque continuar a luta
porque acreditar
em que acreditar
em quem?


Meu grito ecoa
grita dentro de mim
reverbera em meu corpo
ensurdece a mim mesma
mas em vão...

...


ninguém escuta...


meu grito se vai 
no vento
em parte fora
noutra parte dentro
em mim

são palavras vazias
que se perdem 
no silêncio
que me devora

...


me encolho num canto
entre quatro paredes
sem janela para respirar
e uma porta que permanece fechada


uma lágrima escorre 
sobre minha face
sinto seu gosto
em minha boca entreaberta


...


me calo.


Ianê Mello


*

Crédito de Imagem: Fotografia de Pavel Mirchuk
*

Inspirado na música Meu Coração (Arnaldo Antunes)


Um comentário:

Arnoldo Pimentel disse...

Um grito que ecoa entre quatro paredes, lindo e intenso poema.Beijos