quinta-feira, 8 de novembro de 2012

PARA SEMPRE NA MEMÓRIA




A solidão permeia o entardecer, tingindo de cinza o alaranjado céu. A casa vazia, o silêncio em cada cômodo. Nos móveis antigos o abandono retratado numa fina camada de pó que os recobre. Sobre as janelas, uma pesada cortina de veludo cor de vinho se encarrega de filtrar qualquer passagem de luz externa, qualquer contato com o mundo lá fora. No sofá esverdeado, com o tecido já gasto pelos anos, um corpo repousa inerte. As mãos pendentes sobre o corpo imóvel, que só se percebe com vida por um leve movimento em seu peito, causado pela fraca respiração, lentamente cadenciada. Olhos fixos no teto onde uma aranha distraída tece sua teia. O relógio bate as horas. Intermináveis horas de dor e espera. Na parede um único retrato, já amarelecido pelo tempo.  Mulher de pele clara, rosto emoldurado por fartos cabelos loiros e os olhos de um profundo azul. Um azul tão intenso que se pode quase jurar que esses olhos podem ver através da moldura, atravessando o tempo e a própria morte. Sim, essa mulher retratada já viveu nessa casa um dia. Com ela, a alegria irradiava, preenchendo todos os espaços. Tudo era só luz e beleza.  Quando ela se foi deixou apenas o vazio que nada pode preencher. Nessa mesma casa onde tudo agora é só silêncio, sobrevivem os fantasmas do passado, nesse homem que cultiva, dia e noite, noite e dia, a memória da mulher para sempre amada.


Ianê Mello


(07.11.12)

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Pintura de Yuri Yarosh

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