domingo, 19 de junho de 2011

PARA ONDE VAMOS?

Pintura de Guennadi Ulibin


Ela era uma mulher que beirava os cinquenta anos. Seu rosto já perdera o viço da juventude e em seus olhos o brilho da inocência já se apagara.  Apesar disso, julgavam-na uma mulher bonita. Era vistosa, elegante, esbelta e tinha um quê de aristocrático em seu semblante de finos traços. Isso se devia a sua descendência européia. Inteligente e culta, versava sobre qualquer assunto em pauta. Não era fútil como outra tantas de seu círculo social. Suas preocupações eram mais profundas e humanitárias. Isso a destacava desse grupo de mulheres, em que só se falava de moda, estilistas e festas para granfinos.
Sim, ela era diferente. Uma mulher dentre poucas, que se preocupava com causas sociais, com a educação do povo, com a má distribuição de renda. Não conseguia olhar com indiferença para os menos favorecidos, para os mendigos e para os pedintes de rua. 
Muito raramente participava dessas festas sociais da elite, pois detestava os sorrisos falsos, as palavras fúteis, a ostentação das vestes, os banquetes suntuosos. Tudo lhe soava falso e sem sentido, desprovido de qualquer valor. 
Era casada e bem casada, financeiramente falando, com um jovem de posses, por quem um dia, inusitadamente se apaixonou. Não demorou muito tempo para que as diferenças se fizessem claras entre eles. Eram como água e azeite. Jamais poderiam se misturar. Passaram a viver, então, uma vida de aparências. Como tantos outros casais. Ela se ressentia disso mais do que ele, na verdade, pois era muito sensível aos afetos. A fragilidade dos sentimentos e da própria vida a fazia desejar a eternidade das coisas, só que nada é eterno, nem mesmo nós o somos e disso agora ela tinha certeza.
E assim, se passavam os dias, sem maiores expectativas, nem sobressaltos. Apenas aquela mesmice de um dia após o outro, numa infindável rotina.
Ele com suas obrigações se ausentava de casa o mais que podia. Ela, ficava a maior parte do tempo em casa lendo seus livros, escrevendo e ouvindo música. Quando se cansava da clausura, saía para visitar parques, museus, exposições, teatro e cinema. Era chegada as artes, bem como necessitava de lugares ao ar livre para repor suas energias. Seu contato com a natureza lhe era revigorante. 
Como seu marido não partilhava desses gostos, por vezes ia só, outras acompanhada de alguma amiga.
Mas claro que ela sempre se perguntava, reflexiva que sempre fora, porque se mantinha nessa vida, nesse casamento de aparências, em que na verdade cada um vivia sua vida em separado. Qual o sentido disso tudo? 
Às vezes pensava em jogar tudo para o alto, ainda se sentia jovem o suficiente pra recomeçar sua vida, mas estranhamente algo a impedia de seguir adiante e soltar as amarras que a prendiam àquele barco naufragado. O medo do desconhecido talvez fosse o que  a impedisse. Trocar o certo, embora não satisfatório, pelo duvidoso. Próprio do humano, não? O processo de acomodação em que nos envolvemos a cada dia. 
Essa mulher de que falo pode se chamar Maria, Silvia, Rita, Marcia... essa mulher somos todas nós, nos momentos em nos vemos diante de um impasse. Nos momentos em que nos sentimos insatisfeitas com a vida que levamos, mas não sabemos bem o que fazer para mudá-la. 
Essa mulher sou eu, é você, somos nós...
Então, para onde vamos? 




Ianê Mello

Um comentário:

Eu disse...

Confesso puder enxergar-me nas linhase entrelinhas!
Sim! Essa mulher são todos nós em nosso tantos momentos dessa vida!
Tenha uma ótima semana!
Beijos