sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Natureza Animal






Ouço esse som que pouco a pouco,
a cada acorde,
penetra pelos meus poros,
tomando meu corpo
e minha alma de súbito, 
sem que eu possa controlar.
Fecho os olhos e  a viagem começa,
longa e profunda,
para dentro de mim mesma, 
ao vibrar desses acordes.
Me perco em meus labirintos e me entrego
aos meus instintos.
Meu lado humano, pouco a pouco, 
cede lugar ao animal que em mim habita, 
louco para se libertar.
Não, não preciso de nenhum alucinógeno,
nem de nenhuma bebida alcoólica.
Não preciso de nada que embote 
ou entorpeça
meus sentidos.
Pelo contrário, quero-os cada vez 
mais aguçados.
Como aguçados os sentidos de um animal
que fareja, 
sentindo cada odor, pressentindo 
cada perigo e segue em busca de seu território.
Minha viagem é pura, pois que puro é o instinto
que nos move, nos protege, ao mesmo tempo 
que nos impele à aventura.
É o pulsar do sangue em minhas veias.
É o sentir intenso; pela minha própria natureza.
As notas entram, vibram, uma a uma, 
fervilhando o sangue em minhas veias. 
Se espalham por todo o  meu corpo como partículas
sonoras de cores vivas e penetrantes.
Agora eu sou a música; nela me transmuto.
Sou as cordas da guitarra que vibram.
Sou os dedos que as tocam com agilidade e destreza.
Sou ela.
Sou ânima e animus.
Masculino e feminino. 
Mulher e animal.
Sou  alma pura que transcende a identidade,
a dualidade do ser, o humano e o animal, o racional
e o instinto.
Sou meio mulher, meio loba, a correr livremente 
pelos  vastos campos ao som dessas  dissonantes 
notas musicais.
Notas que oscilam, que vibram e  se elevam 
e se retraem como um coração a pulsar, 
em seu eterno movimento, em seu batimento
que traduz a vida.
Ah! Que poder a música exerce sobre mim, 
quando ao sentí-la me liberto dos grilhões 
que me acorrentam, das grades que me contem: 
animal aprisionado.
Sou o puro sentir.
Os sentidos cada vez mais aguçados, o
sangue a fluir pelas veias...quente.
Por todo o meu corpo, posso sentí-lo correr
acelerando meus batimentos cardíacos.
Abro meu peito sem medo e com todas 
as minhas forças deixo sair de mim um grito
gutural, que provêm das entranhas do meu ser. 
Um grito animal, selvagem,  que se liberta... 
e ouve-se um uivo profundo que se espalha pelo ar...
nessa noite em que do alto do escuro céu a lua brilha.



Ianê Mello


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