naquela
manhã quente de verão suas mãos estavam frias e todo seu corpo parecia
desvanecer numa palidez inesperada
enquanto ouvia sem acreditar o homem que amava dizer-lhe adeus em palavras
lançadas como pontas de faca afiada em seu peito matando dentro dela qualquer
fio de esperança nesse amor ao qual se entregou sem medidas coisa que jurara
para si mesma não mais fazer pois já
conhecia o fim e sabia o quanto era amargo como fel e assim estava ele à sua frente agora sendo
forçada a assistir o mesmo filme que já conhecia passar frente a seus
olhos na mesma forma forçadamente amena
de dizer adeus como dizem todos aqueles
que se julgam superiores de alguma maneira por haverem superado um
sentimento que antes existia e por acharem que se bastam a si mesmos podendo do outro dispor como fosse um chinelo
velho que não tem mais serventia sem pensar ao menos que esse mesmo objeto
tanto tempo lhe serviu e aqueceu os pés em tempos frios e nem mesmo o olhar
incrédulo do outro pode dissuadi-lo do término e nem mesmo a lágrima que
disfarçadamente escorre do canto dos olhos o comove como se uma capa de frieza
o envolvesse e nada mais possa tocar seu coração que um dia se mostrou tão
amoroso e seus lábios que agora proferem palavras duras e cortantes nem mais
parecem os mesmo lábios de onde só saíam palavras murmuradas docemente e
promessas de amor eterno
Ianê Mello
(05.12.12)
*
Pintura de Santiago Carbonell
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