segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

REPRISE





naquela manhã quente de verão suas mãos estavam frias e todo seu corpo parecia desvanecer  numa palidez inesperada enquanto ouvia sem acreditar o homem que amava dizer-lhe adeus em palavras lançadas como pontas de faca afiada em seu peito matando dentro dela qualquer fio de esperança nesse amor ao qual se entregou sem medidas coisa que jurara para si mesma não mais fazer  pois já conhecia o fim e sabia o quanto era amargo como fel  e assim estava ele à sua frente agora sendo forçada a assistir o mesmo filme que já conhecia passar frente a seus olhos  na mesma forma forçadamente amena de dizer adeus como dizem todos aqueles  que se julgam superiores de alguma maneira por haverem superado um sentimento que antes existia e por acharem que se bastam a si mesmos  podendo do outro dispor como fosse um chinelo velho que não tem mais serventia sem pensar ao menos que esse mesmo objeto tanto tempo lhe serviu e aqueceu os pés em tempos frios e nem mesmo o olhar incrédulo do outro pode dissuadi-lo do término e nem mesmo a lágrima que disfarçadamente escorre do canto dos olhos o comove como se uma capa de frieza o envolvesse e nada mais possa tocar seu coração que um dia se mostrou tão amoroso e seus lábios que agora proferem palavras duras e cortantes nem mais parecem os mesmo lábios de onde só saíam palavras murmuradas docemente e promessas de amor eterno 


Ianê Mello


(05.12.12)


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Pintura de Santiago Carbonell

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