sexta-feira, 14 de setembro de 2012

PALAVRAS ADVERSAS



Se você me chama vida
eu te chamo morte
poço que aprofunda dores do sentir

Se você me chama alegria
eu te chamo tristeza
na penumbra que cobre a tarde devagar

Se você me chama desejo
eu te chamo indiferença
no esgar de sorriso a passear em lábios cor de sangue

Se você me chama presente
eu te chamo passado
no tempo que escorre pela fresta da porta entreaberta

Se você me chama brisa
eu te chamo tempestade
arrastando com fúria promessas guardadas no tempo da espera

Se você me chama completude
eu te chamo vácuo
nas horas que espero em vão sua presença dispersa em nuvens

Se você me chama verdade
eu te chamo calúnia
em palavras encobertas na tez branca pela véu da desesperança

Se você me chama grito
eu te chamo silêncio
e me despeço muda desse incansável sentimento que você teima em  sentir.


Ianê Mello


(14.09.12)

*
Desenho de Anouk Griffioen.

5 comentários:

Dulce disse...

Adversidade e contradição... quanta bela poesia como esta escrita nesses ecos!
Muito belo.

Dario B. disse...

O paradoxo levado ao extremo, bjo Ianê.

Ianê Mello disse...

Grata pela presença e atenciosa leitura, amigos Dulce e Dario.
Bjs.

Marcelino disse...

O paralelismo dos versos faz um interessante contraponto ao conteúdo forte dos versos.

Ianê Mello disse...

Olá, Marcelino! Fico feliz com sua presença e comentário. Um abraço.