sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

CORES EM EXÍLIO



“Quando a natureza é excepcionalmente bela, ela provoca uma estranha lucidez. Muitas vezes sou invadido por uma terrível clarividência. Nesses momentos, a excitação que se apodera de mim diante da natureza vai aumentando até me fazer perder os sentidos”.

Van Gogh




Nem todo absinto aplaca minha dor
ferina e rascante como o trago
que garganta abaixo resvala
em minh’alma sinto tanto
tão intensamente
que meu sentir de mim se apodera
como uma doença que se espalha
em metástase...
os olhos de outrem me condenam
fracasso após fracasso me domina
me perco em caminhos mal traçados
minha vida a acumular desesperanças
esta minha solitária sina eu contemplo
atiram-me pedras sem dó nem piedade
os que se dizem perfeitos em juízo
e eu que em minha defesa nada tenho
busco em minha arte meu refúgio
meu consolo e meu amparo
em brancas telas me desnudo e me refaço
em girassóis laranjas cor de sol
em estrelas que na noite cintilam
ou num pobre quarto de pensão
exilado em mim mesmo
sem reconhecimento nem prestígio
em minha humanidade rejeitado
me entrego a minha própria solidão
ouço vozes doentias
que reverberam em minha mente
assim me reconhecem como louco
perdido em meu tormento
e num ato de clemência a mim mesmo  
tomado por estranha lucidez
atento contra a minha vida sem sentido
e parto desse mundo desamparado



Ianê Mello


*

Crédito de Imagem: "Auto Retrato"

Nenhum comentário: