sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O ADEUS QUE SE ETERNIZA




Pincéis e paleta nas mãos
na tela branca, a espera...
olhos que vislumbram
ouvidos que escutam
da natureza o chamado
nos girassóis alaranjados
(por você tão amados!)
nas árvores verdejantes
em narcisos e campos de trigo
em plantações de algodão
cobertas pela neve

Posso compreender
o que através de seu olhar
você sempre procurou dizer
em sua arte que se revelava em cores
sinto em mim toda a dor que sofreu
na incompreensão de sua lucidez
em sua visão que enxergava além
muito além
do que os tolos poderiam ver

Será que agora poderiam te ouvir?
Será que agora poderiam enxergar com seus olhos?

Olhos porcelana de um profundo azul
olhos de uma alma inquieta
refletido em cores que mudavam de tonalidade...
a vida em novos matizes
em nuvens cor de violeta
enrodilhando o céu azul
em estrelas amarelecidas resplandecentes
refletidas em águas escuras e tranqüilas
no flamejar das flores reluzentes
no amarelo narciso a desabrochar
na tonalidade âmbar do trigo pela manhã
nos rostos marcados pela dor
gentilmente por suas mãos abrandados

Sim... eu posso entender...
sua alma torturada pela angústia de ser único
pelo isolamento que sofreu por não ser igual
por ter tentado dizer-lhes que não era louco
apenas sentia intensamente cada emoção...

Quando meu olhar pousa em suas telas
e detenho a emoção que de mim se apodera...
sim... eu posso quase te ouvir...
Mas eles não poderiam ouvi-lo...
Rechaçavam-no por não compreendê-lo
assustavam-se com sua extrema lucidez

Hoje não contenho minhas lágrimas
e as derramo por você
que em profunda desesperança e desespero
em sua vida pôs fim
naquela noite estrelada
com suas próprias mãos
as mesmas mãos que pintaram as estrelas no céu
as mesmas mãos que coloriram o mundo

Essas mãos que um dia por amor se manifestaram
disseram adeus a um mundo que você não pertencia
a um mundo que não foi feito para alguém assim
de alma tão sensível, pura e cheia de amor

Hoje, em quadros dependurados em salas vazias
por vezes em paredes desconhecidas
sua arte repousa...
até quem sabe um olhar sensível como o seu
sobre sua tela se debruce
e sua alma possa inquietar-se
lendo sua linguagem codificada
em pinceladas vibrantes e coloridas
e em suas telas possa derramar-se em emoções
e em seu traços possa sentir a sua angústia
e possa ver e possa escutar tudo... tudo
o que numa vida inteira procurou dizer
tudo o que os outros não puderam compreender

Ianê Mello

Inspirado em  Vincent Van Gogh
Tela: O semeador depois de Millet

2 comentários:

Herculano Novaes de Aragão disse...

Belíssimo!
Simplesmente genial!

Ianê Mello disse...

Obrigada por sua visita e comentário, Herculano. Um abraço. NAMASTÊ!!!