quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

NO LIMIAR DA LOUCURA


  


Ouço ruídos que imitam sons de vozes
a gritarem em minha mente
ou serão vozes talvez
numa língua que não compreendo

- Parem, parem, eu não suporto mais!

Me deixem só com em meu silêncio
melhor companheiro que possuo
nessas horas de incompreensão humana
de total ausência de tudo
em que me sinto um nada
um ser amorfo e estranho
inadequado e perdido
num mundo que não me pertence

Por favor, respeitem isso ao menos...
preciso abrandar meus sentimentos
meu coração  que bate descompassado
todo esse tormento... toda essa dor...
minha solidão... meu vazio

me deixem só por favor...
não quero companhias malfadadas

não, não quero mais ...

não quero mais palavras desperdiçadas
palavras- bumerangue
que batem e voltam
com tamanha força e intensidade
que me ensurdecem os ouvidos
ao ponto de pensar se terei que
cortá-los fora de minha cabeça
... a ambos ...

apenas um deles talvez
quem sabe já me baste
para aplacar minha aflição
para calar essa voz
essa voz que ecoa em mim
e não quer mais calar

não, não quero mais ...

não quero mais mãos que me apedrejam
olhos que me olham sem me ver
bocas que se mexem desconexas
proferindo palavras que não reconheço

não, não quero mais ...

não quero mais esse sentir sem sentido
esse viver sem motivo ou razão

por favor escutem o que peço
não ignorem esse meu desejo confesso
pois sei o quanto já me custa estar vivo
poupem-me ao menos de tal martírio.


Ianê Mello


*


 Poema Inspirado em Vincent Van Gogh - Tela: No limiar da eternidade

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