sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

VERSOS INVERSOS



"Tatear as formas, conceber amor com doçura e só encontrar espinhos, rosa murcha e desejo pálido. Tatear o barro, o mármore do mundo e abraçar vazio o oco do destino, aflição, vapor.
Ir à foz com sede e deparar com a lama revolvendo úmida a fonte, a água clara, sujando a jóia rara".

Camille Claudel


Muitos acham que versos devem ter
a doçura  de um favo de mel
mas  quanto doce um poema pode ser
numa vida que também amarga feito fel


Poema arrumadinho, tão certinho
que agrada os olhos de quem ler
e  na ilusão só reconhece o carinho
enquanto o mundo agoniza no sofrer


Hipocrisia, ironia, desdém da dor
cada qual sabe de si o seu limite
mas eu não faço versos sem ardor
eu faço versos para quem existe


verso na crueza dos amores
reconheço nas flores o espinho
não procuro esconder os dissabores
pois tudo faz parte do caminho



Ianê Mello



* Inspirado em 
Camille Claudel
Escultura:   L'Âge Mûr -  A Idade Madura (Bronze)


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