sexta-feira, 5 de agosto de 2011
O ANJO CAÍDO
Muriel era uma linda mulher. Protótipo de beleza pelos homens cobiçado.
Pele alva, cabelos loiros e um corpo escultural.
Desde nascida se sabia que seria pelos homens desejada pelos homens.
De origem pobre e humilde, tudo lhe faltava: pão, calor e carinho.
E assim ela crescia entre os trancos e barrancos de uma vida vazia e sem sentido.
Seu pai, ao observar a beldade em que sua filha se tornara, pensou:
"Bem que podia me valer de tamanha formosura em nosso proveito, para conseguir algum dinheiro. Nesse aperto que temos passado, mal tendo o que comer e onde morar."
Para ele parecia prática a solução, sem em nenhum momento cogitar o bem estar de sua única filha muher.
Tinha uns contatos na cidade e para lá se dirigiu, sem sequer consultar Muriel.
Lá funcionava uma casa noturna "A Casa do Sol Nascente", que embora a beleza do nome em suas paredes nenhuma beleza abrigava.
Era um prostíbulo que atendia aos fregueses mais abastados do local e seus filhos quase impúberes lá eram levados para serem iniciados na arte do sexo.
Conversou com a cafetina, Daguimar, que era a responsável pelo local e lhe falou sobre sua bela filha.
Ela ficou entusiasmada, pois todas as mulheres que lá haviam já meio que passavam da idade e todas muito rodadas, por isso o movimento andava fraco. Carne nova era sempre um bom negócio, um incentivo para atrair mais fregueses. Logo se interessou e perguntou ao pai:
- A moça é virgem?
- Sim, claro - responde o homem meio nervoso.
Daguimar quis então conhecer tal beldade e marcaram o encontro para a noite seguinte.
Chegando em casa, a filha já dormia. Nem imaginava o que lhe aguardava para a noite seguinte.
O homem foi trocar-se e deitou na cama , em que sua mulher já estava, dormindo pesadamente.
Na dia seguinte, sem dizer o porque, levou sua filha e cidade e comprou-lhe um vestido. Não era grande coisa, mas dentro do que podia pagar e dos trapos velhos que ela tinha, estava bom demais. Ela, inocentemente, sorriu para seu pai em agradecimento.
Estava bonita, pois em seu corpo longilíneo tudo lhe caía bem. Pernas longas, busto pequeno e um rosto angelical. Longos cabelos loiros lhe cobriam a face corada. Grandes e sonhadores olhos azuis que brilhavam como contas e um sorriso de menina completavam sua beleza.
À noite, após o jantar, ele pediu a sua filha que pusesse o vestido novo que lhe dera e pintasse os lábios com batom . Ela não entendeu o porquê, mas como sempre, fez o que ele pediu sem nada perguntar. Sofria de uma timidez típica de moça do interior, acostumada a ficar presa dentro de casa sem conviver com o mundo lá fora. Quando retornou a sala, pai e mãe abriram a boca de admiração. Como ela estava linda!
O homem deu uma desculpa qualquer para a mulher e saiu com a filha porta afora. Era assim, nunca dava satisfações a ninguém. Afinal, não era ele o responsável pelo sustento da casa.
Assim que saíram, Muriel olhou para o céu. Como estava lindo cheio de estrelas! Encantou-se com a lua cheia que tudo iluminava a sua volta. Estava feliz em sair de casa, coisa que não era acostumada a fazer, embora não compreendesse o motivo.
A cidade era pequena. Foram caminhando devagar, ela a segurar no braço do pai, enquanto os homens que passavem se viravam para contemplar sua beleza.
Chegaram finalmente à Casa do Sol Nascente. Assim que entraram, pontualmente no horário marcado, estava a cafetina Daguimar já impaciente a espera, próxima ao balcão de entrada. Olhou para aquela moça, linda como um anjo e seus olhos brilharam de cobiça. Estava feita, iria tirar muito dinheiro com aquela belezura.
"Que maravilha, dinheiro em caixa! Excelente mercadoria!", ela pensou, em sua ganância.
Muriel nada entendia. Olhava para os lados e via mulheres em pequenos trajes, pintadas como bonecas, sassaricando de um lado para o outro e alguns homens sentados nos sofás ou em cadeiras, com um copo de bebida nas mãos. Alguns acompanahdos de uma das moças, outros sós. Uma música cobria o ambiente iluminado à meia-luz. Não entendia o que fazia ali. Porque seu pai a tinha trazido num lugar como aquele.
Enquanto ela observava, também era observada por diversos pares de olhos cheios de cobiça. Sentia-se mal com tantos olhares a pousar sobre ela.
Seu pai e Dagmar fizeram os acertos necessários e a moça ali já passaria a primeira noite, sendo iniciada por companheiras de ofício mais antigas. As roupas seriam dadas pelo estabelecimento, bem como a alimentação, claro!
- Venha cá, menina! - chamou Daguimar.
- Sim, senhora, pois não.
- Me chame de Daguimar. Vou lhe apresentar as meninas. Rose e Josefa, levem a moça e expliquem o serviço. Vejam, ela ainda é virgem. Precisam ensinar tudo. Josefa, você acompanha ela esse noite.
Elas olhavam para Muriel com inveja. Sua leveza, sua frescura de moça, sua beleza angelical faziam-nas sentir-se trastes ultrapassados. Ela iria lhes tirar toda freguesia. Que cliente iria querê-las com "aquelazinha" ali. Fresca como uma flor em botão, resvalando perfume pelo recindo enfumaçado.
Mas, que fazer, tinham de passar-lhe as manhas do negócio. Ensinar-lhe tudo que sabiam, ou quase tudo, esconderiam um trunfo na manga. No mais, era quastão de tempo. Logo, logo ela perderia esse viço e formosura, porque a vida ali não era nada fácil!
Então, se tornaria, pouco a pouco, apenas mais uma delas...
Muriel estava confusa, em sua cabeça passavam mil coisas. Ela não conhecia as maldades do mundo, mas sentia que aquele lugar não era boa coisa. Ficou assustada. Tentou abrir a boca para falar com seu pai, como antes nunca visera, mas foi levada pelos braços pela meninas da casa.
O pai a olhava afastando-se, sem renorso algum no coração. Ela virou-se uma vez para traz a sua procura. Ela não estava mais lá.
Sua sorte fora lançada.
Ianê Mello
Crédito de imagem - Pintura de Pino Daene
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