sábado, 19 de outubro de 2013

QUE O SILÊNCIO ME VALHA



Encantar serpentes com palavras
Ofício por demais engenhoso
Voláteis, impactantes palavras
Presas de uma teia de enredos
Perdidas entre seixos de pedras
Escorregadias ao toque das mãos
Fugidias, ambíguas, cortantes
Penetrantes, pungentes
Enquanto vivas e despertas
Esmaecidas em seu brilho
Quando a esmo pronunciadas
Palavras cansadas
Enfraquecidas pelo uso
Numa fraca eloquência
Sem propósito ou valia
Que o silêncio fale por elas
Quando a boca se cala
Que o silêncio seja bendito
Preenchendo o vazio de sons


Ianê Mello

(18.10.13)

*
Pintura de Rene Magritte