domingo, 29 de novembro de 2009

Vida que Segue





 
Fiz do canto

abrigo

Sem desencanto

prossigo


Ianê Mello



O Sentido Humano do Toque







Tocar...
na ponta 
dos dedos
sentir a pele
Sua textura
saliências
 reentrâncias
Maciez
aspereza


Mãos 
que deslizam
Percorrem
recantos 
côncavos
convexos
Encontros
Carícias

Contato...

Íntimo
Profundo

Em cada corpo
reside um mundo




Ianê Mello




sábado, 28 de novembro de 2009

Infrutífera Espera





Entregue a solidão
no vazio da busca
Corpo exposto em abandono
Largado nu pela indiferença
como se fora sem vida
Ferido em sua alma,
em seu amor-próprio,
pelo punhal da desilusão,
da eterna espera
por um bem que tarda a chegar
Seus olhos, espelhos da alma,
obscurecidos pelo desejo,
atroz e implacável,
no tempo que escorre
como sangue em suas veias
Na escada de pedra,
lívida e inerte jaz...
no sono eterno
da desesperança aflita


Ianê Mello

Tempo de Inocência





Ela era assim...Tinha um brilho nos olhos e a pureza num sorriso infantil. 
A credulidade de uma criança, que da vida só enxerga o belo.
Seus pés eram asas e ela flutuava sobre a vida com a inocência de quem crê.
Pura como uma flor em botão, que ainda não reconhece seus próprios espinhos.
E assim ela foi seguindo. Sempre sorrindo. 
O coração feliz.
Nada parecia lhe faltar. De nada carecia.
Sua vida era suave como um rio manso que flui livremente pelas margens e que uma vez  não represado, desconhece o furor que pode provocar a contenção dessas águas quando aberto o dique.
E assim ela foi crescendo, em inteira liberdade. 
Sentiu-se grande e para ela não havia limites. O mundo estava a seu favor.

....................................................................................................................................................


Você sente que esse texto parou no meio, sem uma conclusão?

Talvez eu tenha querido lhe provocar essa reação. Talvez não.

Esse texto poderia ter um fim ?

Ele relata um sonho que eu tive adormecida ou um sonhar acordada (utópico desejo da criança que em mim habita)?

Cabe à você, leitor, interpretá-lo da forma que mais lhe agrade ou que lhe sopre a lógica, ou quem sabe que lhe faça sentir o coração.






Ianê Mello

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Palavras que iluminam








Que poder exerces sobre as palavras
que mais parecem rios caudalosos
que desaguam na imensidão da alma
Palavras-flores a se abrir em pétalas
perfumando tudo ao redor
Palavras leves como o vento que acaricia
Palavras com a força de uma ventania
Palavras quentes, ardentes de emoção
Prenchem os espaços vazios
Enchem de significados a razão
Embebedam os sentidos num afago
Palavras que nutrem e revigoram
Palavras que se demoram
e em nós encontram abrigo


Palavras...
Palavras...
Palavras...

Palavras nuas...

Palavras suas.






Ianê Mello







Homenagem a Kanauã Kaluanã
http://katyuscia-carvalho.blogspot.com

O valor do amor




O que os outros pensam não importa
O que importa é o que o coração grita
Quando fala forte  o sentimento
o que se  esconde atrás da porta
é  uma pessoa aflita
Pelas palavras não ditas
Pelas  ditas sem razão
Machucam e fazem feridas
que sangram o coração
Quantas ofensas em vão
Quantos xingamentos e brigas
Melhor seria se então
um fim puséssemos à essa lida
Deixemos tudo pra lá
Nada mais a de importar
Saia detrás da porta 
e a feche quando entrar
ou a deixe entreaberta 
se achar conveniente
mas de uma coisa estou certa
quando você está presente
é mais belo o despertar.


Ianê Mello


Ouça: Oswaldo Montenegro"Quando a gente ama"


Imagens do inconsciente




















Imagens simbólicas
vindas do inconsciente
Nos revelam mistérios
do arquétipo coletivo
Imagens universais  
guardadas em nossa mente
Nos remetem aos primórdios,
aos nossos ancestrais,
reflexos que somos
das inúmeras passagens
que por essa terra fizemos 
Em nossa alma abrigamos
esse misto de  imagens
do que um dia vivemos
Fomos ricos, fomos pobres
Fomos plebeus , fomos nobres
E em cada encarnação
um pouco mais aprendemos
da vida, grande lição
e ao amor nos rendemos



Ianê Mello







Ouça: Kitaro "Silk Road"
 

domingo, 22 de novembro de 2009

O Mito de Narciso




Narciso usa o espelho como uma extensão de si mesmo, e, como Narciso, os homens se tornam fascinados por qualquer extensão de si mesmos, mergulhando num estado de entorpecimento.





Olho no outro e me vejo
e pela imagem refletida
no espelho de seus olhos
por mim mesma me apaixono


O amor que penso nutrir
pelo outro ser que fito
na verdade é amor-próprio
como o mito de Narciso


Quando no outro me vejo
numa extensão de mim
penso ser amor num lampejo
mas o que fica no fim
é a realidade triste
de apaixonar-me por mim
e o outro... sequer existe




Ianê Mello





Ouça: Joaquin Turina "Narciso Yepes"

Amor sem medidas












Perfura a pele
e sangra
gota de sangue
que cai ...

vermelha  gota
emoção exposta
coração a mostra
sem pudor


Haverá medidas
para o amor?




Ianê Mello









Ouça: Oswaldo Montenegro "Lua e Flor"

Momento que passou





O quanto nos custa o aprendizado do silêncio,
das emoções contidas e represadas em nós. 
O quanto nos custa a revelação,

a confiança de nossos segredos e mistérios.
Quem merecerá partilhá-los conosco

e com respeito os guardará em si?
O quanto nos custa a palavra não dita, 

a ação não praticada no momento preciso.
O momento é o agora,

pois passada a hora,
o presente se esvai.
E o que sobra é o lamento

pelo que poderímos ter tido e sequer tentamos.


Ianê Mello



Ouça: Debussy "Clair de Lune"

Cultivo do Amor-próprio




Dentro de nós está
tudo o que procuramos fora
Olhe dentro e verá
Não se perca, sem demora.

Buscamos fora encontrar
alegria, prazer, calor
e nos esquecemos de olhar
para o nosso próprio amor

Amor-própio é do que falo
Tão difícil de sentí-lo
que por vezes até me calo
por puro medo de ferí-lo

É como flor que se cultiva
em nosso próprio jardim
e dela se faz cativa
a melhor parte de mim

Dar amor é uma dádiva
que faz bem ao coração
Mas dar amor a si mesmo
é que nos dá redenção

O perdão por nossos erros,
a busca em acertar
é o que faz de nós mesmos
um ser pronto para amar. 


Ianê Mello


Ouça: Chet Baker"Alone Together"

Viagem pra dentro





Dentro de mim um mar bravio
às vezes calor, às vezes frio
Vontade de naufragar
Tempestades e tormentas
Sentimentos em ebulição
Palavras soltas ao vento
que minha boca profere
Ninguém as ouve
Não encontram ressonância
Será que falo noutra língua?
Quanto mais eu falo
mais sinto quando calo
que nada foi compreendido
Será que perdi o juízo?
Será que preciso gritar
aos quatro ventos bradar
meu grito de libertação
Meu peito já não suporta
essa angústia de sentir
a vida nesses momentos
como um eterno ir e vir
Como filmes que já vi
e se repetem em minha mente
Passagens que já paguei
em viagens que nunca fiz
Não, não é a primeira vez
que a escuridão me assusta
mas espero no fim do túnel
por um fim a minha busca
Sou mulher, sou gerreira
mas as forças agora me faltam
pois que sempre fui inteira
e aos pedaços me tornei
Quero encontrar minhas forças
Ir em busca do que perdi
E se tiver que ir sozinha...
pode ter certeza: eu irei








Ianê Mello



Ouça: Gonzaguinha "Sangrando"




sábado, 21 de novembro de 2009

A Delicadeza do Toque





Toque meu corpo
com dedos gentis
com cuidado e delicadeza
em toques  sutis
Como se fora um violino
que ao mais leve toque,
por força do destino
se possa quebrar
Pensa que a beleza
se esconde no toque
que abriga a sutileza
de um leve roçar
Carícia leve
que provoca na pele
um arrepio breve
e faz com que se sele
uma tímida promessa
que ao afeto impele
Sussurrando no ouvido
doces palavras
turvando o sentido
reacendendo  brasas

Ianê Mello


Ouça: Bach "Air on the g string"
 

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Flor e o Espinho







Me desperto com a manhã
Puro gozo e lamento
e nessa febre terçã
componho meu sentimento
Querer bem querer-te assim
faz de mim o que eu sou
Levo da vida no fim
pedaços do que restou
Em mim mesma eu me guardo
...sete-chaves, pedra bruta
Pérolas eu mesma faço
com ouvidos à escuta
Rosas cor de carmim
colho nos jardins do éden
e as guardo dentro em mim
como uma lembrança breve
Felicidades eu planto
com o cuidado da flor
e para meu próprio espanto
nem sempre vingam em amor
Jardineira por opção
a meu ofício dedico
toda a minha inspiração
ponho amor no que acredito
Se espinhos eu encontro
ao colher flores silvestres
lambo o sangue em meus dedos
e sorvo dele a vida
Enfrento meus próprios medos
e a cada gota bebida
mais humana eu me torno
e curo minha ferida




Ianê Mello





Eu, a outra e os outros


(Para Raul Seixas)

 
Não, não tenho a palavra certa
para dizer na hora exata
Não tenho, nem quero ter
Não sou dona da verdade
e muito menos quero ser
Não sou dona de ninguém
nem quero esse poder
Nem de mim mesma eu sou,
me lapido no viver
A vida que vivo
nem sempre é a que quero ter
Vivo do jeito que posso
conciliando o poder ao querer
Tenho tudo que preciso
e nada tenho ao mesmo tempo
pois meu querer é oscilante
ele muda com o vento
Talvez eu seja inconstante...
E daí, o que importa?
Quando quero fecho a porta
e me tranco por dentro
Então, procure entender
e respeite meu momento
Pois prefiro assim ser
Mutável, mutante
ao invés de um ser amorfo,
previsível e estagnante
Sou um ser polimorfo
tal qual um camaleão
Mas não pense que isso faço
pra chamar sua atenção
É a minha natureza, não disfarço
"Prefiro ser essa metamorfose ambulante"
Assim meio Raul Seixas... impactante
Quem sabe um "maluco beleza"
Mas nunca uma farsante
Tenho até alguma certeza
Mas dúvidas, tenho de montão
E assim levo minha vida
Fluindo na correnteza
e outras vezes na contramão
Se gostar de mim assim
pode me acompanhar
Também, se não tiver "a fim"
não vou me incomodar
Entendo que cada um
tem o direito de optar
pelo caminho a seguir
Se o nosso se cruzar
só me restará... sorrir

Ianê Mello



 Ouça: Raul Seixas "Metamorfose Ambulante"

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Poética da Alma - Iluminação Interior






























Tua escrita me comove
Adentra pela minha alma
qual lâmina pungente e sangra
Veste de vermelho as palavras
E unge minha boca que emudece
Vinho santo que sorvo
e a cada gole me embriago
Em silêncio me quedo e estarreço
Prenha de manhãs ensolaradas
Nos labirintos de minh'alma me perco,
em noites de luas, enluarada.





Ianê Mello



Homenagem à Katyúscia Carvalho

Ouça: Milton Nascimento "Anima"

Meu Remanso




Em teu peito,
meu descanso
...adormeço
no encanto
do amor puro
E nas asas
da poesia
eu me lanço...
quando amanhece
mais um dia.




Ianê Mello






Ouça: Pedro Camargo Mariano "Acaso"

Plenitude no Olhar


  
Limitado teu horizonte
pela fresta que vês
a inteireza da ponte
que te levará ao infinito

E em ti calas o grito
Como pássaro enjaulado
que tem asas pra voar
mas preso não quer cantar

Te libertes, então, pássaro ferido
mesmo que partida a asa
Teus olhos sabem o caminho
que te levará pra casa


Ianê Mello





quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Papel de Seda



 


Em fina flor
de papel
componho
meu canto
Extraio a dor
do pranto
e tinjo 
o branco
papel
de vermelho


Ianê Mello


terça-feira, 17 de novembro de 2009

Solitude











                                    A pálida Lua 


                                    Flutua

 
                                    Universo em desencanto.
    
        




                                 Ianê Mello 

 



Amor Pueril



O amor mexe com a gente
Nos tira do sério
Nos envolve em mistério
Em secreto mirar 

Nos deixa assim sem jeito
assim meio  no ar
Com um aperto no peito 
e doçura no olhar 

Com os pés fora do chão
e o corpo a levitar
como fosse um balão
que se vai  pelo ar

Será mesmo do amor
que estou a falar
ou será do clamor
de paixão similar?

Afinal mais parece
essa tal descrição
uma forma de prece
de criança em oração

Seja lá o que for
se paixão ou amor
Todos nós já sentimos
e, um dia, por ele sorrimos



Ianê Mello



segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Arma de Sedução




 

Cabelos... moldura do rosto
macios e sedosos ao tocar
Neles pouso meus dedos com gosto
e me perco nas artimanhas do amar

Vermelhos como farol
Pretos como azeviche
Loiros da cor do sol
Brancos os da velhice

Na mulher causam vaidade
- atributo de valor
Não importando a idade
cultivam-no como uma flor

E para o homem que seduz
joga os cabelos para trás
que rebrilham feito luz
cegando o velho e o rapaz


Ianê Mello



Ouça: Eduardo dusek "Cabelos Negros"
 
Ouça também: Beto Guedes "Um girassol da cor do seu cabelo"




Poeta do (a)mar







Poeta és, com certeza
No mar encontras a beleza
para teu singelo versejar
Tu és poeta do (a)mar


Em suas cálidas ondas
ou mesmo na arrebentação
compõe teus versos e sondas
nas profundezas da emoção


Teu versejar voluntário
acalma teu próprio ser
Viajante solitário
aprende a não fenecer


No sal das águas, o abrigo
que cura do corpo a dor
energizando os sentidos
preparando-o para o amor




Ianê Mello





Uma homenagem à " poetaeusou "

Ouça: Music of meditation - "Ocean"(New Age)   

domingo, 15 de novembro de 2009

Poesia - Loucura Lúcida





Quintana em seu quarto no Hotel Majestik(hoje Casa de Cultura Mario Quintana-PA)

                              
A diferença entre um poeta e um louco é que o
poeta sabe que é louco... 
Porque a poesia é uma loucura lúcida.

Mario Quintana


Profundas nossas palavras
que gotejam emoção
como se fossem lavas
de um vulcão em erupção
Viscerais e pungentes
arrancadas de nossa alma
Sentimentos tão urgentes
que necessitam de expressão
e não ponderam a calma
O papel é o veículo
para nossa exortação
O instrumento precípuo
à nossa liberação
Súplicas podem ser
e urgem serem ouvidas
a quem as quiser ler
para que sejam sentidas
Gritam eloquentemente
saltando aos olhos de quem lê
Não há de ser mansamente
que expressaremos o sofrer
Seremos por isso dementes
estando sempre a mercê
de críticas incoerentes?

Nos sabemos loucos
como bem disse Quintana
Nos importarmos pra quê?
Se nossa mente é insana,
a lucidez ... é pra poucos

Ianê Mello

Praça da Alfândega (Porto Alegre) Quintana, Drummond e eu