sábado, 25 de fevereiro de 2012

A BELEZA DA VIDA





A paz que habita em nós
doces notas harmônicas
equilíbrio das mãos

no corpo a coragem
o vigor da luta

no rosto um sorriso
comunhão de sentires

corações pulsantes
em uníssono

ser humano é
tão somente
esse olhar afetuoso
sobre o mundo pousar

ver a vida a sorrir
no sol por entre as nuvens


Ianê Mello


*


*
Crédito de Imagem: Fotografia de Abril Brime

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

MAR QUE DESÁGUA





A flor da sensibilidade
na pele o suave toque


Mar de águas profundas
nem sempre límpidas


Em sua essência complexa
torna-se verdadeiro mistério
que alguns querem desvendar


Digna de grandes admiradores
e por outros invejada
mas sempre...

sempre lembrada


Em seus braços o alento
ao filho, ao pai, ao homem


Em suas conversas a intimidade
segredos revelados ao pé do ouvido
à filha, à amiga, à mãe


De muitos artifícios engendrada
se reinventa a cada instante


Mulher, amiga, amante.




Ianê Mello






Crédito de imagem: Devian Art


Postagem original em 
30/07/11

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

VIDA A PULSAR

TRANSMUTAÇÃO


Descartando a mãe da dor
exorcizo meus demônios
amenizo meu sentir
e assim seguindo
aprendendo a viver
no limite do impossível
ganho asas e alço vôo

...

desmaterializo-me

...

desconstruo a solidez

...

fluidifico-me.



Ianê Mello



Crédito de Imagem: Thierry Tillier - Descartando a mãe da dor - Colagem - 2007

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

BALLERINA


"A orquestra executou os acordes de Tchaikovsky. Houve uma explosão de aplausos. Desceu o pano, tornou a subir. Christine Avery adiantou-se para a reverência. Ao inclinar a cabeça, sorrindo graciosa e tímida, os aplausos dobraram e redobraram."

(Extraído do Livro "Ballerina" de Edward Stewart).

Deslizas no ar
graciosos  movimentos
do chão seus pés se perdem
flutuas...


como um anjo desperto
uma fada de luz
um ser iluminado
que meus olhos contemplam
e revelam-me Paz


Delicadeza da flor
que de botão se abre
róseo-carmim perfumado
e leve como pluma
despetala-se


e em luz se torna.


Ianê Mello
 

*Poema inspirado em Ernesto Cortazar - Waltz Of Love

(http://youtu.be/peWWBdyFD30)




Crédito de Imagem: Pintura de Edgar Degas 

ALÉM DA VIDA TERRENA




Não temais na vida
o caminho a ti reservado
foste tu que o escolheste
embora de tua memória
tenha se apagado a lembrança


Tudo está em harmonia
tudo está como deve ser
O peso que suportas
não é mais do que podes carregar
acredite... tenha fé...




olhe para dentro e encontre a força


Esse corpo que hoje habitas
mero invólucro de sua alma
é o instrumento preciso
para que possas elevar-se
para que evoluas em teu espírito


Cuida da morada de tua alma
dependes dela para cumprir tua missão
Agradeça por estar aqui nesse mundo
e faça o melhor que puderes


Teu corpo, ao findar essa passagem,
se extinguirá e retornará ao pó
Mas tua alma que é imortal 
levará consigo o aprendizado que conquistaste.


Nada se perde... Nada se perderá...


Ianê Mello



* Poema inspirado em  Loreena McKennitt – Cymbeline
(http://youtu.be/y2DH-r6DMNI)








domingo, 19 de fevereiro de 2012

VALES DO SUL




nas narinas
o cheiro do musgo
que cresce nas árvores

um cheiro úmido
verdejante

o barro molhado
vermelho

rastros da vida
que se alastra
sob meus pés descalços
estrada solitária
longíngua
numa cidade fantasma

o vento sopra nas árvores

garrrafas de vidro a tilintar
quebram o silêncio lúgubre

onde estão todos os habitantes
nessa terra de ninguém?

Ianê Mello


*Inspirado em Rain In The Valley - The Steel Wheels 

(http://youtu.be/KYMnssce-1o)

sábado, 18 de fevereiro de 2012

PERDIDA EM SEUS OLHOS



Das rosas sinto o perfume
a maciez de suas pétalas
mas ao tocá-las com as mãos nuas
sou ferida pelos espinhos


Estendo minhas mãos
mas a distância se fez imensa
Falta-me o ar quanto te fito
e em seus olhos não me vejo


Então eu canto
canto como escrevo
para amenizar a dor
canto para dizer do meu amor


Cantar visceral e apaixonado
fluir de emoções que guardo em mim
cantar que nasce das entranhas
e nelas cria sua própria voz


Inocente e pura por amar
ainda busco seu olhar
olhar de estrelas cintilantes
que numa noite escura
me fizeram sonhar


Mas as luzes se apagam
e minh’alma se  aquieta
olho pra dentro de mim
e ainda consigo me ver



Ianê Mello



* Poema Inspirado em Anouk  - Lost
(http://youtu.be/dn_CjkNtl6s) 




Crédito de imagem: Foto de 
Anka Zhuravleva

CONTRAPONTO





sem fantasia
abro-me em versos


desmascaro-me
num sorriso
a dançar nos lábios


perco a vergonha


me deixo
exposta
nua
pura
simples


descarnavalizo sentires
em purpurinas ao vento


no brilho que de dentro
me toma
e por si só
me ilumina.




Ianê Mello




* Fotografia de Pavel Mirchuk

SIGA VIVENDO...





Vai...
vai viver a vida
vai...


Se a porta está fechada
pula a janela e sai
Cria movimento
no instante do momento

Ganha espaço
no tempo
Seja sendo ...
dance no vento

Sorria pra vida
e dela sorria também

Esperneie e chore
apenas por um momento

Mas vá mais além
não se demore nessa angústia
que nada se detém

Ultrapasse a linha
vença
por uma cabeça
de diferença
e conquiste
o resto da vida
para ganhar
suas próprias asas


Ianê Mello

*

Crédito de Imagem: Fotografia de Anka Zhuravleva


Inspirado em Jan Garbarek - One Ying for Every Yang
(http://youtu.be/nv-Ab0ZitLE)



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

ALMA DESCOMPASSADA




Acordes que vibram
em descompassos da alma

inquietudes no bailar
puro ou profano


um ato de amor
profundo e insano

em clave de sol ou fá
posso ser mi sustenido
posso ser dó menor

o que encanta 
 é o canto difuso
em espirais no ar

cria asas doce- mel
enleva o corpo
num terno abraço

até o azul do céu



Ianê Mello





* Crédito de Imagem: Fotografia de Anka  Zhuravleva

O ADEUS QUE SE ETERNIZA




Pincéis e paleta nas mãos
na tela branca, a espera...
olhos que vislumbram
ouvidos que escutam
da natureza o chamado
nos girassóis alaranjados
(por você tão amados!)
nas árvores verdejantes
em narcisos e campos de trigo
em plantações de algodão
cobertas pela neve

Posso compreender
o que através de seu olhar
você sempre procurou dizer
em sua arte que se revelava em cores
sinto em mim toda a dor que sofreu
na incompreensão de sua lucidez
em sua visão que enxergava além
muito além
do que os tolos poderiam ver

Será que agora poderiam te ouvir?
Será que agora poderiam enxergar com seus olhos?

Olhos porcelana de um profundo azul
olhos de uma alma inquieta
refletido em cores que mudavam de tonalidade...
a vida em novos matizes
em nuvens cor de violeta
enrodilhando o céu azul
em estrelas amarelecidas resplandecentes
refletidas em águas escuras e tranqüilas
no flamejar das flores reluzentes
no amarelo narciso a desabrochar
na tonalidade âmbar do trigo pela manhã
nos rostos marcados pela dor
gentilmente por suas mãos abrandados

Sim... eu posso entender...
sua alma torturada pela angústia de ser único
pelo isolamento que sofreu por não ser igual
por ter tentado dizer-lhes que não era louco
apenas sentia intensamente cada emoção...

Quando meu olhar pousa em suas telas
e detenho a emoção que de mim se apodera...
sim... eu posso quase te ouvir...
Mas eles não poderiam ouvi-lo...
Rechaçavam-no por não compreendê-lo
assustavam-se com sua extrema lucidez

Hoje não contenho minhas lágrimas
e as derramo por você
que em profunda desesperança e desespero
em sua vida pôs fim
naquela noite estrelada
com suas próprias mãos
as mesmas mãos que pintaram as estrelas no céu
as mesmas mãos que coloriram o mundo

Essas mãos que um dia por amor se manifestaram
disseram adeus a um mundo que você não pertencia
a um mundo que não foi feito para alguém assim
de alma tão sensível, pura e cheia de amor

Hoje, em quadros dependurados em salas vazias
por vezes em paredes desconhecidas
sua arte repousa...
até quem sabe um olhar sensível como o seu
sobre sua tela se debruce
e sua alma possa inquietar-se
lendo sua linguagem codificada
em pinceladas vibrantes e coloridas
e em suas telas possa derramar-se em emoções
e em seu traços possa sentir a sua angústia
e possa ver e possa escutar tudo... tudo
o que numa vida inteira procurou dizer
tudo o que os outros não puderam compreender

Ianê Mello

Inspirado em  Vincent Van Gogh
Tela: O semeador depois de Millet

SONHOS ESTRELADOS



Salpicadas de amarelo
estrelas rebrilham em luz
como pontos no infinito
no azul anil do céu
e em meus olhos cintilam
sonhando sonhos acordada
na tela que a noite pinta.



Ianê Mello



Inspirado em  Van Gogh
Pintura: Noite Estrelada

VERSOS INVERSOS



"Tatear as formas, conceber amor com doçura e só encontrar espinhos, rosa murcha e desejo pálido. Tatear o barro, o mármore do mundo e abraçar vazio o oco do destino, aflição, vapor.
Ir à foz com sede e deparar com a lama revolvendo úmida a fonte, a água clara, sujando a jóia rara".

Camille Claudel


Muitos acham que versos devem ter
a doçura  de um favo de mel
mas  quanto doce um poema pode ser
numa vida que também amarga feito fel


Poema arrumadinho, tão certinho
que agrada os olhos de quem ler
e  na ilusão só reconhece o carinho
enquanto o mundo agoniza no sofrer


Hipocrisia, ironia, desdém da dor
cada qual sabe de si o seu limite
mas eu não faço versos sem ardor
eu faço versos para quem existe


verso na crueza dos amores
reconheço nas flores o espinho
não procuro esconder os dissabores
pois tudo faz parte do caminho



Ianê Mello



* Inspirado em 
Camille Claudel
Escultura:   L'Âge Mûr -  A Idade Madura (Bronze)


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

SERES ANTAGÔNICOS





Somos sussurros
que ao pé do ouvido se instala
Somos o próprio grito
quando o mundo não se cala


Sussurramos pelos cantos
mas gritamos desencantos
quando a dor nos aperta
e o sentir se avoluma


Somos o tudo que no nada se perde
somos o nada que no tudo está perdido
Somos a palavra que nas entrelinhas se cala
Somos em nós as entrelinhas que da vida se resguarda


Somos o verbo e o silêncio
somos os versos e a prosa
Somos o conto que encanta
Somos a história que lamenta


Somos sombra quando projetados
pelo sol na clara tela
Somos reflexo no espelho
somos a nossa própria imagem refletida


Somos alegria e lamento
somos esse agora, esse momento
somos o passado que nos devora
somos o amanhã que se revela




Somos tudo
nada sendo.



Ianê Mello


Inspirado em  Salvador Dali "Desmaterialização".




Centelha Divina


"Não somos mais
Que uma gota de luz
Uma estrela que cai
Uma fagulha tão só
Na idade do céu..."


A Idade do Céu - Paulinho Moska



Somos um grão de areia
na imensidão do mar
Somos uma pequena fagulha
rápido clarão no fogo do céu


Somos uma centelha de luz
uma breve aparição
Somos uma voz difusa
no silêncio do mundo


Somos uma presença breve
no vasto universo
um lampejo divino
um sopro de calor 


Somos um pequeno coração
pulsando  na imensidão
no bater das horas
nas explosões estelares


Deixe que o tempo passe
apenas sinta o pulsar
da vida que sempre renasce
independente de nós.




Ianê Mello



Inspirado em  A Idade do Céu (Jorge Drexler - vs. Paulinho Moska)




(Republicação da postagem original de 
07/11/11)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

NO LIMIAR DA LOUCURA


  


Ouço ruídos que imitam sons de vozes
a gritarem em minha mente
ou serão vozes talvez
numa língua que não compreendo

- Parem, parem, eu não suporto mais!

Me deixem só com em meu silêncio
melhor companheiro que possuo
nessas horas de incompreensão humana
de total ausência de tudo
em que me sinto um nada
um ser amorfo e estranho
inadequado e perdido
num mundo que não me pertence

Por favor, respeitem isso ao menos...
preciso abrandar meus sentimentos
meu coração  que bate descompassado
todo esse tormento... toda essa dor...
minha solidão... meu vazio

me deixem só por favor...
não quero companhias malfadadas

não, não quero mais ...

não quero mais palavras desperdiçadas
palavras- bumerangue
que batem e voltam
com tamanha força e intensidade
que me ensurdecem os ouvidos
ao ponto de pensar se terei que
cortá-los fora de minha cabeça
... a ambos ...

apenas um deles talvez
quem sabe já me baste
para aplacar minha aflição
para calar essa voz
essa voz que ecoa em mim
e não quer mais calar

não, não quero mais ...

não quero mais mãos que me apedrejam
olhos que me olham sem me ver
bocas que se mexem desconexas
proferindo palavras que não reconheço

não, não quero mais ...

não quero mais esse sentir sem sentido
esse viver sem motivo ou razão

por favor escutem o que peço
não ignorem esse meu desejo confesso
pois sei o quanto já me custa estar vivo
poupem-me ao menos de tal martírio.


Ianê Mello


*


 Poema Inspirado em Vincent Van Gogh - Tela: No limiar da eternidade

NO LIMIAR COM CORVOS




  
Absinto
sinto
abstenho
tenho
em mim
dentro
sinto
calo
consinto
reparo
comparo
paro


me abstenho do ter
me abstenho do sentir
me abstenho...


sinto que calo
sinto que consinto
reparo, comparo, paro


corroído pela dor e pelo vício
abstenho-me da vida num suplício
dou a ela o fim que me cabe
nos campos de trigo em que sorvi
um último vislumbre de beleza
em meu próprio peito com destreza
abrevio essa solitária existência
na tristeza que se eterniza
num último suspiro




Ianê Mello


**



Poema inspirado em  Vincent Van Gogh - Pintura Campo de trigo com corvos

MÃOS EM SÚPLICA



“Há sempre algo de ausente que me atormenta.”

Camille Claudel




MÃOS EM SÚPLICA 



 em mim
juventude perdida
num corpo sem vontade
a dor do abandono
se instala
ajoelhada
aos seus pés
lhe imploro
suplicante
por um amor
que nunca foi meu
derrotada
sem orgulho
eu...
criatura humana
mulher exposta
num rasgo de delírio
busco suas mãos
mãos frias de bronze
que de tão próximas
fizeram-se tão distantes
inalcansáveis
intocáveis mãos...


 Ianê Mello






Poema inspirado em La Implorante- Camille Claudel.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Mãos de Afeto




Na areia nua
solitária rosa
rosa carmim

docemente adormecida    
repousa...  
                                    

a espera...
quem sabe    
de amorosas mãos
que a acolham


Ianê Mello







*Créditos de imagem: Carlo Russo

TEIA DA VIDA






A vida assim escorria
entre os dedos,
entre as mãos
e dela nada retia
na retina do olhar
que se perdia
em anoiteceres
de angústia e solidão
O tempo enredado
como teias
que se entrelaçam
num estranho balé
e eu prisioneira
presa certeira
enrodilhada em mim mesma
em meus próprios erros


Ianê Mello

*


Crédito de Imagem: Pintura de Susan Seddon Boulet


Lenine - Envergo mas não quebro (Chão)


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

NO AMOR RENASCIDA




Ah, se eu pudesse
voaria ao infinito
com minhas asas de seda!


Ah, se eu pudesse
descortinava os medos
e no abismo me lançava!


Ah, se eu pudesse
ao amor me renderia
e dentro dele seria um nada!


Ah, se eu pudesse
me enlaçaria em braços,
me perderia em abraços,
me perfumaria em rosas,
alecrim e cravo!


Ah, se eu pudesse
seria doce como mel
sedosamente floresceria
no jardim encantado
e no amor me reencontraria!


Ah, se eu pudesse...
em teu amor renasceria!




Ianê Mello


*

Crédito de Imagem: Pintura de Olivia C
harmaine.


Oswaldo Montenegro-Quando a gente Ama



POR BRILHO




sua presença é luz no recinto vazio

...

sombras em meus olhos marejados
fantasmas de sonhos
quimeras...

fica...

fica e preenche aos poucos
a solidão acostumada
abrigada em meu peito
como fera
ferida e acuada

...

apenas fica...

um pouco mais...



Ianê Mello







terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

PERDIDOS NO OLHAR




Olhos, espelhos a refletir
o amor que transborda,
amor que inunda


Olhos... na retina resguardam
segredos, desejos, lampejos
Doces e serenos olhos,
morada da alma,
por entre cílios espessos
brilhos que se ocultam,
frestas para o céu


Diamantes que rebrilham
poções de esperança
Olhos nos olhos,
vida em outra vida,
que eterniza-se...


...no instante do olhar.



Ianê Mello
*

Crédito de Imagem: Pintura de Anna Vinogradova