sábado, 15 de fevereiro de 2014

NO OLHAR



Distâncias...
Quantas abrigam
Um simples olhar?

Ausências...
Quantas se escondem
Na clara retina?

Distâncias...
Ausências...

De mim
De ti
De nós

Do mundo
Tão vasto
Tão inalcançável

Qual bicho
Acuado
Ensimesmado

Qual ostra
Na concha
Escondida

Por detrás do olhar
Uma mulher
Trancada em si

O quanto abriga
Um simples olhar?


Ianê Mello
(15.02.14)

*
Pintura de Klint


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

VISLUMBRES DO AMANHECER


Era um céu rasteiro, sem fôlego. Mas era o início de um infinito.
Jerusalém, Mia Couto


  
Era um céu azul
um azul tão intenso
que na vastidão
o olhar se perdia

Era um céu azul
horizonte a descoberto
vôos de pássaros
a descortinar lonjuras

Era um céu azul
de um azul infinito
reflexos de luz 
na placidez da manhã


Ianê Mello
(11.02.14)


*
Pintura de Magritte

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

SENTIMENTOS EM CONFLITO





Sei que não é por querer que você me diz
palavras duras que ferem como lâmina de aço
sei até que sua raiva esconde na verdade
um profundo amor que não cabe em si
mas dói, dói demais ouvir tais palavras
dói demais sentir a raiva em seu olhar

Sei que preciso compreender a sua dor
ser paciente e tolerante, que tudo isso vai passar
mas em meu peito este sentimento ruim
teima e insiste em não me abandonar
por mais que não seja a primeira vez
por mais que eu devesse me acostumar

Sei  que a vida com você será  sempre assim
instável, frágil e sujeita a altos e baixos
sei também que você não tem culpa
por estas oscilações de humor constantes
por estes sentimentos que oscilam
do amor ao ódio, por vezes num breve instante

Sei que sou a pessoa que te ama incondicionalmente
que você conta sempre comigo em sua vida
que se você fere é por sentir-se ferida
mas por ser humana não posso me impedir
de sofrer a cada vez que você me ferir
e sentir  o meu amor  cansado assim

Mas sei que amanhã tudo pode mudar
resta então esperar que amanheça
e a doçura em seu sorriso de menina
traga de volta a esperança em meu olhar
e a mãe que em mim adormecia
acorde a mulher que sabe amar

Ianê Mello
(09.02.14)


*
Pintura de Ans Markus


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O TUDO E O NADA



O tempo que escoa
como areia na ampulheta
e nele a nossa vida
desfeita em sonhos,
em nossa liberdade despedaçada
na prisão do tempo encarcerada.

E os sonhos tão sonhados
pintamos em aquarelas
em nossa mente que divaga
e em palavras nos perdemos
porque queremos ser Tudo
e naufragamos no Nada.

No vazio da ilusão
buscamos algum alento
e o que nos resta senão
mais um desapontamento.

No Tudo que nós buscamos
não vemos o essencial.
A resposta está tão perto
e nós percorremos mundos
só encontrando desertos.
Enquanto procuramos fora
esquecemos de olhar para dentro.


Ianê Mello

*
Revirando o baú em busca de poemas antigos...
Esse é de agosto de 2011.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

CORPO QUE JAZ




pela madrugada afora
nas horas de insônia
corpo cansado
ao descanso não se rende
olhos embassados
pela leitura
mente inquieta

...

há dias me sinto assim
angústias dentro de mim
indagações sem respostas
perguntas vãs e suspensas
e eu, equilíbrio frágil
acrobata delirante
na corda bamba

...

o circo já montado
a platéia a espera
o show acontece
como tem de ser
o dia amanhece
no rosto pintado
um largo sorriso

...

em cordas suspensa
piruetas improviso
ensaio perigos
quedas imaginárias
a lona esticada
amortece o tombo
prolonga a queda

...

nem osssos quebrados
nem fraturas expostas
nem sangue
nem nada
mas algo se quebra
inútil disfarce
a morte é súbita

...

não há mais circo
não há mais platéia
show já não há
apenas um corpo
que jaz ainda em vida
sequelas da dor
que não ousa cessar


Ianê Mello

(05.02.14)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

DESPERTAR



(..)

Um intervalo no tempo
a paz por um momento
no desabrochar do sorriso
no amanhecer do olhar

Viver é para quem sabe amar!

(...)

Ianê Mello.



sábado, 1 de fevereiro de 2014

OCULTA EM MIM MESMA



Estar ...
ser ...
analogicamente
me persigo

em ruas
em frestas
em muros
em nesgas
em rasgos

num buscar
incessante
inoperante
dilacerante
deliro

em dias
em noites
em madrugadas
insones

me caço
me vejo
me sinto
me ajo

onde estou?
o que sou?

me preciso
me limito
me recuo
me possuo

em partes
em fragmentos
em subterfúgios

ao amanhecer
me encontro
em mim
perdida
exposta


Ianê Mello


(31.01.14)


*

Imagem de Tomas Rücker