quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Desejo Tardio























 

Gostaria de tecer flores de algodão
e enfeitar tua cama com doçura
para que tua noite fosse pura
repleta de sonhos bons

Em teu rosto desenhar doces beijos
e realizar teus infantis desejos
cantando cantigas pra te fazer dormir
velando teu sono de criança

Cresceste e eu bem sei
Será que fui eu que não notei
que o tempo corria sem parar
enquanto estavas a sonhar?

E me perdi no meio do caminho
enquanto tu continuavas sozinha
Por vezes sem minha mão para amparar
Nem mais cantigas para te ninar

De criança te tornaste mulher
e eu te olho como quem quer
voltar no tempo e recomeçar
para reaprender a te amar

Ianê Mello

Apenas Sou

Sou uma e sou várias
partes de mim que se complementam
Por vezes semelhantes
Por vezes até antagônicas
formando esse ser multifacetado
Esse ser sempre inacabado
Flexível, maleável,
mutante, mutável
Um rascunho de mim mesma
que nunca toma definitiva forma
Quando penso que me conheço
vejo que me sou desconhecida
Descubro em mim uma nova faceta,
um novo olhar o mundo
um novo agir
Às vezes sou meio peixe
nadando num mar de emoções
Sou ave que voa longe
sem medo dos furacões
Sou gata que mostra as garras
quando se entrega as paixões
Sou leoa a proteger sua cria
dos estranhos que ameaçam
Sou água, sou ar, sou terra
Sou sonho, amor e poesia
Sou tudo...
Sou nada.

Ianê Mello



Libertar-se





Abrir o peito e soltar o grito
aprisionado na garganta
Seguir apenas o rito
que o próprio sentido dita
nos desejos contidos
nesse corpo dilacerado
em seus básicos instintos tolhido
Rasgar o véu que recobre
como mortalha em vida
essa pele que reveste
a vergonha da nudez
Ser sem limites e sem medo
esse humano que habita
nas profundezas do ser.


Ianê Mello



terça-feira, 29 de setembro de 2009

SIMPLESMENTE AMAR




* O beijo – Gustav Klimt


Falam tanto desse sentimento
que me pego a pensar:
"será que sabemos o que é amar?

Esse fogo a queimar por dentro
e muitas vezes esse alento
que se sente ao estar
junto do outro que nos completa
e torna nossa vida repleta
de uma sensação de bem estar.

Querer-se com tanta ternura
que do passado se cura
e a ferida que doía
cicatriza e não dói mais
e tudo que se sabia
se renova a cada instante
que nos braços do amante
nos encontramos em paz.

Não importa se com palavras
conseguimos definí-lo
o que importa é sentí-lo
pulsando dentro do peito
nos fazendo sentir vivos.

Amor não se define direito,
se vive e não tem jeito.
Aguça nossos sentidos
e nos provoca gemidos,
seja de prazer ou dor
pois pode ser cruel o amor.

Quando não correspondido
pode platônico se tornar
e provocar um martírio
na vida de quem amar.

Mas por mais que eu queira
sobre esse sentir falar
mais me perco nas palavras
que, em vão, tento usar. 

Resolvo, então, num momento,
à esse sentimento me entregar
sabendo, que na verdade,
o que importa é simplesmente amar.


Oswaldo Montenegro "O Poeta- trovador"


sábado, 26 de setembro de 2009

Entre lençóis e afagos























Tua imagem no escuro

brilha e reluz
diante dos meus olhos enternecidos
aquece meu pulsante coração
tal qual chama ardente
nessa noite úmida e fria
deixando em meu corpo
o sabor da espera

Cresce em mim o desejo
de em tuas costas nuas
encostar meus lábios
ávidos e úmidos
provocando em tua pele
um arrepio molhado

Passear meus dedos
em teu corpo nu
desenhando em traços finos
o contorno de tua pele alva...
um convite para minhas mãos
chama acesa para minhas fantasias
pouso certo para meu amor

E assim...
entre lençóis e afagos
me entregar à sensações já conhecidas
me perder em teus braços
que me prendem
para me encontrar
no desejo que liberta
e entre suspiros e ais
sermos dois e sermos um
nessa dança-do-amor
que nos completa

Enquanto a madruga nos espreita
aguardando que o desejo adormecido
finalmente ao sono se entregue
e nossos corpos unidos num abraço
com seu manto acolhedor possa cobrir.

Ianê Mello

Cão sem dono


A cada novo encontro
me perco
nas esquinas sombrias
nos desvãos
nas casas vazias
E fora de mim
me vejo
sensível, frágil
fugidia
como um cão sem dono
com a coleira ainda envolta
em seu pescoço magro
Assim me sinto
acuada, perdida
como quem fareja
o chão sujo de lama
sem tato, sem rumo
sem vida
um fardo
sem prumo
Me entrego

Ianê Mello

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Vulcão em Erupção


Ainda queima em mim a chama
O desejo ainda arde febril
Me perdi em meu corpo
entre pelos e delícias
e me encontrei forte e frágil:
coração- aprendiz
Sou dona de mim
sei que posso
as rédeas soltar
e cavalgar livremente
pelos pastos verdes
As amarras que me prendem
são minhas
eu as criei em fantasias
sonhos de menina- quase- mulher
Mas a chama brilha viva
aquietada por pensamentos racionais
se deixando por vezes queimar
em cinzas que se apagam
morte dos desejos que aprisiona
Mas o vento vem...
finda a calmaria
e a chama reavivada flameja
como as larvas de um vulcão
e queima em súplica
e o corpo arde
numa explosão de meteoros

Ianê Mello

sábado, 19 de setembro de 2009

Quimeras de Algodão

*Foto de Ianê Mello (Vôo para Porto Alegre)


Braços abertos projetam-me no espaço
deixando atrás de mim
casas, ruas, vales, montanhas
E o sol, qual incandescente lâmpada,
a iluminar e aquecer
quimeras de algodão

Bem do alto dos meus sonhos
vislumbro imagens coloridas
No azul anil do céu
brilham luzes de esperança

E tudo lá embaixo vai ficando bem pequeno
As árvores, as casas, os carros,
pouco a pouco vão se tornando pequenos pontos indefinidos,
enquanto as nuvens vão formando um tapete de algodão

Da pequena janela
fico extasiada com tamanha beleza
Contemplando o imenso céu,
com suas cores e matizes,
me sinto como um pássaro,
abrindo minhas grandes asas,
flutuando acima das nuvens,
atravessando o arco-íris
em busca do meu pote de ouro.


Ianê Mello

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Terra-mãe





Pisar na terra

Com os pés descalços

Desnudos

Afundar na lama

Entrar no caos

Caos da existência humana

Que emana

das profundezas do ser...

Renascer...

Pisar forte essse chão

Moldar o barro com a mão

Mãos de afeto

Mãos do sim

Mãos do não

Mãos ágeis e precisas

Mãos,por vezes,indecisas

Amassar o pão

Cavar a vida com a própria mão

Desterrar a ferida

viva e pulsante

que a terra aduba e fertiliza

pois da terra veio

e a ela retorna...

Terra-mãe.




Ianê Mello

Pela madrugada adentro



A madrugada avança impiedosa,
Suave e mansa como um gato
Que com suas garras me aprisiona
e em seus braços cálidos me conforta.
Tempo que escorre como rio...,
Caudaloso e límpido,
Águas claras e tranquilas.
Palavras a brotar como flores...
Vitórias-régias da alma,
Transbordam fluídicas no branco do papel
Colorindo-o de paixão ... docemente.
Fulgurante manhã que se inicia
Para os olhos despertos e extasiados.
No belo pousados como borboleta
Que poliniza delicadamente, flor a flor.

Ianê Mello


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Desencontro

Sua boca emudece

o que o coração grita

Os olhos que fitam

já não são "espelhos da alma"

Caminhos tortuosos percorremos

Tantos que acabamos nos perdendo

um do outro

Em noites fugidias

Em dias sem calor

Na distância sem pontes

cobrindo nosso afeto

Cada qual em seu lugar

No vazio do quarto

Na escuridão das paredes

Nos quatro cantos sombrios

No mundo de cada um

Na solidão de nós dois


Ianê Mello



Mãos


Mãos que se estendem aflitas
pela fome de um semelhante
Mãos de afeto que enternecem
o coração de um amante

Mãos que procuram outras
para entre as suas guardar
Mãos que pedem um carinho
Mãos que tocam para amar

Mãos de suaves toques
Mãos que pesam ao tocar
Mãos fechadas e vazias
Mãos abertas ao doar

Mãos que prometem carinhos
Mãos que suportam espinhos
Mãos que se entendem e se tocam
Mãos que em gestos se provocam

Sejam belas, sejam feias
Sejam do jeito que for
Mãos humanas devem ser
para doar-se ao amor


Ianê Mello



Metamorfose


Aquela mulher ali parada

Como se não lhe restasse mais nada
O corpo a tremer de frio

Os olhos perdidos no tempo

Busca por um vão momento

Sentir-se viva

Os cabelos em desalinho
Acariciados pelo vento
A lua a iluminar-lhe o rosto
O coração oco por dentro
Escorre-lhe dos olhos uma lágrima

O gosto de sal umedece seus lábios

Aquela mulher ali parada

Do peito a vida arrancada
Um espectro de vida
Pálida e nua
Confunde-se com a lua que fita
Iluminada por sua branca luz
Seu corpo, no escuro, reluz...








Deixa-se tomar por súbito encanto

Com um sorriso seca o pranto
Pois descobre-se viva novamente
A natureza a convida a bailar
Ela gira o corpo..
.rodopia
Qual bailarina frente ao mar
Em seu coração sente a alegria

A esperança de poder sonhar
Gira...gira... seu corpo a rodar
Levada pelo sab
or do vento
Sua alma se libe
rta da dor
Não há mais medo, só
contentamento

Aquela mulher agora dança
Sente a vida em seu corpo pulsar
Relembra os tempos de criança
Redescobre a beleza de se amar


Ianê Mello


Furacão de Emoções



Este sentimento que aflora
Inquieta a alma
Mexe com os sentidos
Faz as horas perderem a calma
Num turbilhão de sentimentos vivos

A procura incessante
De um indício, um elo
Que configure esse sentir
A espera pode ter seu lado belo
Dando certo alento ao existir

O passar das horas
Noites em claro
Embaladas por sonhos pueris
Deixa na boca o gosto raro
De desejos puros e febris

Ianê Mello

Sem Pudor



Tua pele
nua
flutua
Universo em desencanto
Brilha
Na noite
escura
Cá dentro
O pranto

Pele nua
Crua
Exposta
Na vazia
Rua
Onde componho meu canto

Escura
Rua
Solidão
Da lua
Imensidão
Do céu
Fazem brilhar
Teus olhos
Descortinando
Teu véu

Teu rosto
transparece
pálido
fugidio
em sua dor

Tuas mãos
estendidas
num apelo
Pedem um pouco
de amor.


Ianê Mello