Fartei-me das palavras
que ninguém quer ouvir
os batuques soam mais alto
que minha fraca voz
Retumbam em minha mente
ecoando insistentemente
ensurdecendo meus sentidos
calando minha agonia e meus gemidos
Minha voz ficou rouca de tanto gritar
e serpenteando se perdeu no ar
nada se ouviu do que tentei falar
e o que calei, guardei em meu olhar
Todos os ouvidos estão surdos
ensurdecidos pelos ruídos
das ruas, dos carros, dos cantos
do rufar dos tambores
Para que tanta alegria?
Para que a festa?
Por que toda essa folia
se essa babel enlouquecida é tudo que resta?
Confete, serpentina, lantejoulas
brilhos ofuscantes, falsos diamantes
mulheres deslumbrantes
altivas em seus palanques
Sobre(s)saltos sempre muito altos
no corpo o nu que predomina
no rosto a dor que se disfarça
na máscara que a face oculta
Falsa alegria que contagia
mas não a mim, que agonia!
Não fui sequer convidada
imagina que pesar!
Carnaval ... falsa alegoria...
alegria em fantasia disfarçada
Fogo fátuo que queima
pra tudo se acabar em cinzas
Ianê Mello
*
Pintura de Joan Miró