segunda-feira, 29 de abril de 2013

SE ASSIM FOSSE


se esse ar que me falta
me tomasse de assalto
olhos, pele e pelos
seria como música
aos meus surdos ouvidos
seria como pintura
aos meus cegos olhos
pois se de amargo fosse doce
a vida numa mesura
seria como se fosse
de uma beleza pura


Ianê Mello

*
Pintura de Toulouse Lautrec


Publicado originalmente em 07.11.09.

sábado, 27 de abril de 2013

TENDO A NOITE COMO COMPANHIA




No silêncio de minha sala vazia
ecos de lembranças
permeiam minha memória
na noite que avança
na solidão das horas
no tique-taque do relógio

flashes de minha vida
em imaginária projeção
passeiam ante meus olhos
fitos na parede nua
entre a vigília e o sono

meu corpo recostado no sofá
num plácido repouso
sem desejos além do descanso
a boca num silêncio mudo
emudecido de palavras...

o que fora é silêncio
grita dentro em mim
coisas que só eu escuto
inaudíveis a ouvidos estranhos
incompreensíveis para muitos

sou eu mesma minha cúmplice
minha única parceira
nessas horas de torpor
entregue a intensos sentires

Assim, mais uma noite se passa
e a ela me entrego mansa
meu refúgio
meu abrigo
até o amanhecer de um novo dia.


Ianê Mello

(22.04.13)


*
Pintura de Adrian Gottlieb

quinta-feira, 25 de abril de 2013

TEMPO DE INOCÊNCIA



Como brincadeira de criança
menino, menina, 
no doce encontro
movido pela inocência

olhos de sonhar mundos
mãos de descobrir formas
sorrisos de clarear o dia

correm campos
cheiram flores
colhem frutos

e na relva fresca se deitam
enquanto o sol 
no alto brilha
e a natureza é pura festa



Ianê Mello
(16.04.13)



quarta-feira, 24 de abril de 2013

NO COMPASSO DA ESPERA





Que seja lento
Tanto quanto breve
Que seja riso
Tanto quanto pranto
Que seja luminoso
Tanto quanto noite

Que seja raro
Tanto quanto comum
Que seja verdadeiro
Tanto quanto ilusão
 Que seja por inteiro
Tanto quanto metade

Mas que seja vida
Que espanta a morte
Nesse desassossego
Preenchido encanto
Transbordando em gostos
Tão demorada espera.



Ianê Mello



(22.04.13)



*

Pintura de Jane Ansell.





terça-feira, 23 de abril de 2013

ALMA LIBERTA




Ler descortina universos
seja em prosa, seja em versos
é magia e encantamentos
o mundo em letras revelado
para olhos que atentos
sorvem cada palavra
e em sonhos emprestados
a imaginação cria asa
voando ao sabor dos ventos
enquanto o corpo em casa
preso a realidade permanece
a alma aturdida desvanece
em momentos de pura alforria
e do mundo lá fora se esquece
em vidas de plena fantasia


Ianê Mello

(23.04.13)


*
Pintura de Charles Edward Perugini





domingo, 21 de abril de 2013

O PULSAR DA VIDA




Sempre é tempo de renascer
acreditar que é possível
uma nova manhã
um novo recomeço

A cada dia o sol brilha
mesmo que por detrás das nuvens
ele lá está...

Sempre é tempo
quando a vontade não é arrefecida
quando o medo é enfrentado
quando os sonhos retomam seu lugar
quando se vê com um novo olhar

Assim, a alma se regozija
e o encanto de viver recupera seu espaço
e do tempo que ficou prá tras perdido
resta apenas a lembrança do aprendizado

Viver pode ser bom
e não apenas um vício.


Ianê Mello.

(21.04.13)

*
Crédito: Imagem do google 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

FEMININAS SUTILEZAS





Escorre mansa
Lânguida serpenteia
Fértil em sua origem
Desabrocha encantos
Tantos a cobiçam
Poucos a possuem
Mulher de poucas intimidades
Recatada em meandros
Enredada em teias sutis
Beleza que se distingue
Em olhares esquivos
Gestos comedidos
Numa altivez de quem teme
Ao amor render seus desejos
No véu que a encobre
Aguarda pacientemente
O homem que virá
E com a delicadeza de um cavalheiro
Pousará nela seus olhos
E através do véu verá
A fêmea que nela se esconde
E com dedos de veludo
Revelará o amor até então resguardado.


Ianê Mello

(18.04.13)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O JOIO DO TRIGO




Há que separar o joio do trigo
O fruto bom do apodrecido
O supérfluo do necessário
O homem honesto do salafrário

Há que separar o direito do avesso
O ciúme do apreço
A paixão do amor
A honestidade do falso pudor

Há que separar o verdadeiro do falso
O bem calçado do descalço
O real desejo da luxúria
O lado animal da criatura

Há que separar o falso brilhante da jóia verdadeira
A sobriedade da bebedeira
O erro do ledo engano
O supostamente sagrado do profano

Há que separar a liberdade da prisão
A mão direita da contramão
O verdadeiro amor da obsessão
O verdadeiro sim e o disfarce do não


Ianê Mello

(16.04.13)

 *
Pintura de Millet





terça-feira, 16 de abril de 2013

LUTEMOS PELA PAZ




Nesse mundo de guerras, injustiças e preconceitos
perdidos estamos nos descaminhos do amor
A cada mão levantada, a cada arma empunhada, a cada agressão
mais nos afastamos de nossa verdadeira essência,
de nossa humanidade, decência e sentimento de compaixão
Quanto tempo perdido com tamanha destruição!

Nos tornamos autômatos, inertes e sem coração
Robotizados estamos, prisioneiros do tempo
Vivemos nossa vida a esmo
Vivemos apenas para nós mesmos
e esquecemos o nosso irmão

Construímos nossa própria prisão
num castelo de ruínas
onde nos escondemos do mundo,
onde nos perdemos cada vez mais
num caminho sem volta

Nos protegemos uns dos outros
por medo da entrega
por medo da decepção
e cada vez mais nos fechamos
dentro de nós, em nosso esconderijo próprio,
onde nos sentimos protegidos
e livres de ameaças externas

E para onde vamos nós
encarcerados em nosso próprio medo?
Quanto tempo mais aguentaremos esse isolamento?
Já paramos para pensar que o ser ao nosso lado
também sente o mesmo que nós?
Já ouvimos no outro a nossa própria voz?


No olhar desesperançado,
no semblante contraído,
na boca emudecida pelo silêncio,
ouvimos nosso próprio gemido?


Somos iguais, sentimentos e emoções
Então, porque não unirmos nossas vozes,
nos olharmos nos olhos,
compartilharmos nossas dores?

Ainda há tempo, quero acreditar
Se você também crê, vem...
me dê sua mão e vamos caminhar
Vamos nos unir e construir um mundo
onde seja permitido ao menos sonhar.


Ianê Mello.

( Publicação original em 31.12.2009)

domingo, 14 de abril de 2013

ACORDA BRASIL!!!




Não, eu não posso, não quero e não vou me calar!

Precisamos fazer ecoar as vozes das minorias, dos enjeitados, dos discriminados, dos subjugados, dos sacrificados em nome de um suposto progresso. Camuflar a realidade que vivemos em nosso país é o papel que tem assumido as autoridades governamentais.
Temos que bradar contra essa atitude covarde e tendenciosa dos que detêm o poder, que só demonstram, a cada ação, lutar por seus próprios interesses, e não em prol do nosso povo.
Não, não podemos e não devemos nos calar! Precisamos tocar nas "feridas" da nossa sociedade. As mazelas não existem para serem escondidas debaixo do tapete, para que os turistas não as vejam e para que o cidadão brasileiro mais abastado não seja forçado a conviver com elas, mas sim consideradas e avaliadas com humanidade, procurando-se formas de resolvê-las. Não vamos nos omitir e nos calar frente as atrocidades cometidas contra a nossa população, índios e moradores de rua. Todos somos cidadãos e temos os mesmos direitos.

Há que se respeitar os direitos dos cidadãos, independentemente de crença, condição social, cultura, etnia ou opção sexual. A população de rua não pode ser excluída como se fosse um estorvo, um entulho, sendo removida e alojada em abrigos com problemas de superlotação e insalubridade, além da presença de pacientes psiquiátricos sem atendimento adequado. São seres humanos, cidadãos como nós, com seus direitos usurpados, que passam privações da pior espécie.
Há que se respeitar os índios em suas justas reivindicações, dando-lhes condições de moradia e respeitando a sua cultura e não tratado-os com total desconsideração e desumanidade como se fossem bandidos que precisam ser punidos, apenas por terem uma cultura e necessidades diferentes do homem branco.
Não se descarta seres humanos como se fossem lixo, varrendo-os para debaixo do tapete, com a clara intenção de escamotear uma triste realidade em que se encontra o nosso país, ignorando as reais necessidades dessas classes sacrificadas que, em manifestações pacíficas clamam por justiça social com a única arma que possuem: a palavra.
Há pessoas que se surpreendem e perguntam: Mas o que eu posso fazer?
Ora, meus amigos, o mínimo que podemos fazer é juntarmos nossas vozes a esses que clamam e em uníssono, manifestarmos através de palavras e atos, o nosso repúdio a tais medidas. Participando de manifestações públicas, utilizando os locais a que temos acesso para mostrar nossa indignação: a internet, o facebook e outros meios de que possamos dispor. Isso é fazer a nossa parte, mostrando nossa indignação e solidariedade. Não vamos simplesmente cruzar os braços e nos omitir, pois estaremos compactuando com tais atitudes. Não esqueçamos nunca que poderíamos estar no lugar dessas pessoas.

Acorda Brasil!!!
Pelos direitos humanos!!!
Por uma sociedade mais justa!!!


Ianê Mello
(14.04.13)

sexta-feira, 12 de abril de 2013

APENAS MAIS UM




A cada dia ao despertar
a vida me sorri
pena que nem sempre
meus olhos estão atentos
meu corpo disposto
minha alma descoberta
e tudo que vislumbro
é apenas mais um dia
que nasce 
e deixo morrer
sem viver

Ianê Mello

*

Fotografia deAnka Zhuravleva

terça-feira, 9 de abril de 2013

EM NÓS




A chuva cai mansa
minha inquietude amansa
deixo tudo pra depois
ao recolhimento me entrego
momentos só de nós dois

Em dias de chuva assim
chove dentro de mim
vontades de aconchego
eu e você num chamego
na cama entrelaçados

Nossos corpos imantados
pelo amor já saciados
descansam num doce abraço
e assim eu me refaço
na completude do amor


Ianê Mello
(03.04.13)


*
Pintura de Toulouse Lautrec

segunda-feira, 8 de abril de 2013

PALAVRAS




O que sou sem as palavras?

sou barco sem porto
sou rio sem água
sou pássaro sem asas
sou amante sem amado

sou céu sem estrelas
sou flor sem perfume
sou filha sem mãe
sou mulher sem amor

sou noite sem dia
sou corpo sem forma
sou árvore sem folhas
sou vida sem vida

sou só sem poesia


Ianê Mello

(08.04.13)

domingo, 7 de abril de 2013

POESIA QUE EMBRIAGA




A noite cai mansa
o sono se avizinha
cálido convite ao descanso
no coração lembranças
vívidas na memória
de momentos embebidos
na mais pura poesia
cálice de vinho tinto
em letras escarlate
colorindo versos
a embriagar doces sentidos
tornando a vida mais leve
descortinando emoções
que povoarão os sonhos
desta simples poeta

Ianê Mello
(07.04.13)

Pintura de Duart's

sexta-feira, 5 de abril de 2013

DE VOLTA AO COMEÇO



Palavras fugidias
desconcertante silêncio
inquieta alma a espera
de algo, algum lampejo
que faça ecoar em versos
sentimentos latentes
no emudecimento do verbo

palavras simples
que não sejam uma expressão
tórrida e ardente
mas que pulsem contínuas
mansamente claras
liquefeitas  e puras
como água em leito de rio
a jorrar em tenras linhas

lágrimas de sal
a banhar a face obscurecida
lavando os olhos secos
iluminando a estrada perdida


Ianê Mello
(05.04.13)

*
Fotografia de Anka Zhuravleva