segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Silêncio como Cúmplice


Silencia toda a dor
acalenta na alma o pranto
não há como o sofrimento expressar
o que um simples olhar denuncia


Tantas vidas aniquiladas
mortes e danos sem par
em nome de um autoritário regime
que não há como suportar


Seres humanos pensantes
rebelam-se e revoltam-se
não conseguem se calar
mesmo que a vida lhes seja roubada


Pela causa que é justa
o sofrer torna-se um nada
Como silenciar o grito
num coração que segue aflito




Ianê Mello


(Inspirado no filme " Cúmplices do Silêncio ")

Platônico Amor

Michelangelo




Se vivo mais de quem me queima e dana,
quanto mais lenha ou vento ou fogo acende,
tanto mais o que me mata me defende
e mais me contento onde mais me fere.


(in Michelangelo Poemas)



Amor platônico
dor latente
queima e arde o ventre
chama ardente
castiga e nele confere
o mais amar
do qual se alimenta
mais desprezado é
mais aumenta

Brilha qual paixão
flamejante
a distância inebria
o caro amante
que mal cabe em si
nessa tormenta

Lenha na fogueira
arde
quanto mais
se ausenta
deixando fogo
em brasa..

coração angustiado
de quem à ele
se apresenta


Ianê Mello

sábado, 25 de setembro de 2010

Sonhos de Amor




Cabelos vermelhos de fogo
a cair nas costas desnudas
vestido entreaberto numa insinuação
Mulher-desejo que impera
só nessa cama fria
brancos lençóis de seda pura
na macies de sua pele se mistura
Mulher proibida e desejada
cobiça de olhares masculinos
Mulher que deseja ser amada
pura e simplesmente sem requintes


Ianê Mello




Simplesmente Mulher

Francine Van Hove



mulher a espera
preparando
aroma e corpo
cheiros de jasmin
flores do campo
pele de cetim
cor de carmim
rosácea flor
perfume inebriante
belo diamante
lapidado no amor







Ianê Mello

Homens Taciturnos



Pintura de Magritte


Os homens e seus sobretudos
Seriedade expressa no semblante
Na cabeça, um chapéu já fora de uso
No olhar, uma expressão distante

Caem do céu como pássaros
mas asas não tem pra voar
Fechados em si mesmos
guardam os seus segredos

Como fossem gotas de chuva
a cair do denso céu
repleto em nuvens escuras
onde habitam seus pensamentos

Homens endurecidos pelo tempo
Amortecidos pela dor
Não podem perder um momento
para abrir-se ao Amor

São muitos e inalcansáveis,
das alturas eles vêem
Procuram manter-se estáveis
por ser o que lhes convêm

Ao caírem por sobre a terra
das nuvens de onde vem
Uma certeza se encerra
podem acabar  ferindo alguém

Homens taciturnos, encimesmados
podem `a alguém desprevenido
causar uma forte apreensão
Do alto de sua altivez derrubados
são homens comuns, cismados
em causar boa impressão.



Desafio Poético em " Diálogos Poéticos" .

Vá lá conferir e participar.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

À Camille Claudel e sua bela escultura " Sakountala "


    

Camille, Camille, és mulher...

Acorda do teu sono tão profundo.
Para além dos olhos do amado
existe um vasto mundo
a ser por ti desvendado.

Levanta-te, mulher, 
abras teus olhos e vejas
e tudo o que desejas
poderá estar à teus pés!

Esqueças o amor petrificado,
em mármore frio eternizado
e vivas em ti o amor encarnado
na figura de um homem real.

De carne e osso, humanizado.
Amor , sem artifícios, natural.



Ianê Mello



Visite-nos em " Diálogos Poéticos " e acompanhe o diálogo poético entre Barbara Lia, Marcelo Novaes e eu.
 

Reciclado para  Fábrica de Letras  à 20 de janeiro de 2010.

sábado, 4 de setembro de 2010

A Longa Espera


Pintura de Giuseppe Dangelico


Em minha cama a esperar
Por um bem que tarda chegar
Ou quem sabe nem apareça
Em meu corpo essa saudade
Do toque que aquece a pele
E arrepia docemente meus pelos
Sinto meu corpo a clamar
Nesse desejo da espera
Mas não é o sexo que arde
É a delícia do amor
Penetrando em cada poro
O suor a escorrer pela pele
Percorrendo nossos corpos úmidos
Ávidos e entregues, sem pressa
O tique-taque do relógio
Não se faz ouvir
Entre sussurros e gemidos
De bocas que se tocam
Se unem e desvendam caminhos
Percorrem trilhas escondidas
A descoberta do outro
no reconhecimento de si mesmo
Ah.... como dói a espera
Essa angústia no peito a apertar
Por esse amor que tarda a chegar.



Ianê Mello

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O Estrangeiro

Imagem do Filme "Budapeste"

"Outrora eu era daqui,
e hoje regresso estrangeiro,
forasteiro do que vejo e ouço,
velho de mim.
Já vi tudo, ainda o que nunca vi,
nem o que nunca verei.
Eu reinei no que nunca fui."

Do Livro "Desassossego" Fernando Pessoa


Um estrangeiro em seu próprio país. Esse eu sou. 
Olho à  minha volta e não reconheço o que vejo.
Partes abstratas fora de mim.
Estrangeiras. 
Incompreensíveis.
Meus ouvidos escutam uma língua que não compreendo.
Um torpor me invade e corroi por dentro essa angústia.
Sem pátria, sem rumo, sem língua, sem chão, sem paradeiro.
Estrangeiro eu sou em meu próprio país.
Quando solto o verbo, se grito, se berro, minha voz se faz calar.
Dialeto estranho, incompreensível e insano.
Louco sou, porém poeta.
Da vida escrevo o que sinto e nem sempre é o que vejo,
apenas pressinto.
O belo clamor que urge da sonoridade da fala, em mim,
é o que cala.
E o coração sangra aberto em ferida.
Tenta em vão cicatrizar dor tão profundamente doída.
Dessa tênue linha divisória a que  chamamos... VIDA.



Ianê Mello
Ouça: Música "Toth Emese"(Trilha do Filme Budapeste)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Olhos no Vazio

 Pintura de Daniel Peci



Quando dei por mim estava nua
Despida de qualquer vaidade
Nada para me aquietar o espírito
Nenhum fino tecido a esconder minha face
Eu estava tranparente e sem medo
Com a verdade estampada no rosto
E os olhos úmidos de emoção
Era eu que ali estava, sem máscaras
Assim me mostrei a quem quis ver
Mas nem todos tem coragem
De olhar nos olhos que fitam
A essência de outro ser 
Esses, desviaram os olhos
E perdidos ficaram no vazio do nada...



Ianê Mello