quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

VERDADEIRA ESSÊNCIA




e eu que me julgava pronta
medos espantados
temores abrandados
rancores desfeitos

certezas alcançadas
e eu que me julgava firme
emoções sedimentadas
desejos satisfeitos
amores calculados
caminhos definidos

e eu que me julgava sábia
palavras proferidas
fantasmas esquecidos
dúvidas resolvidas
vida programada

e eu que me julgava tanto
me vi despida de vaidades
quando noutro olhar pude ver
a mais pura essência
do que sou refletida

Ianê Mello

(18.12.13)

*
Foto de Anna Clea

domingo, 15 de dezembro de 2013

VERMELHO





Vermelho sangue derramado
vermelho batom em minha boca
vermelho coração apaixonado
vermelho olhar daquela  louca

vermelho céu ao pôr do sol
vermelho cor do peixe espada
vermelho brilho do farol
vermelho retirante na estrada

vermelho corte na partida
vermelho amor que se avizinha
vermelho medo sem saída
vermelho paixão que é toda minha

Ianê Mello
(12.12.13)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O PULSAR DA VIDA



A solidão que assola e permeia as horas
Em minutos no tic-tac do relógio de parede
Vida de soslaio a espreita de um coração
De uma emoção qualquer que pulse
Acelerando os batimentos cardíacos
O sangue quente a correr nas veias
A vida urge, arde, clama, chama
Exigente ela requer presença e garra
Não pela metade mas por inteiro
Resta a entrega tácita e definitiva
Antes que a chama se apague
Antes que tudo se acabe
Antes que a vida dobre a esquina.


Ianê Mello

(11.11.13)

*

Pintura de Salvador Dali


domingo, 8 de dezembro de 2013

ALÉM DO OLHAR



A vida segue seu curso
em dias tão iguais
em dias tão diversos
tristeza, alegria
pranto, riso...
sentir é preciso

a cada anoitecer
a cada por do sol
uma nova esperança
uma flor que renasce
uma estrela que brilha
um fruto maduro
... caído do pé

É preciso seguir
é preciso ter fé
fé no amanhã
fé no que virá
secar as lágrimas
alongar o olhar


Ianê Mello

(08.12.13)

sábado, 23 de novembro de 2013

VIVER A VIDA



Dizer da vida essa ternura infinda
Vestida de azuis, perfumes e jasmins
Vida vivida em plenitude
Vida a transbordar sentires

Dizer da vida essa procura insensata
Em dúvidas travestida, dia a dia
Dissabores a moldar-lhe a face
Olhos obscurecidos pela espera

Dizer da vida esse desejo intenso
Cores, brilhos, primaveras em flor
Na pele o arrepio da surpresa
A beleza que transpassa toda dor

Dizer da vida eu poderia um pouco mais
Detalhes absorvidos pelos anos
Fio a fio o engendrar da trama
Da aranha que tece seu tear

Dizer da vida e perder-me em palavras
Palavras que com o tempo se vão
Melhor então vivê-la em silêncio
Na entrega que permeia a paixão.

Ianê Mello
(11.11.13)




sexta-feira, 22 de novembro de 2013

FONTE FECUNDA



Entremeados verbos
obscuro sentido
na lucidez da trama
palavras que são véus

nas entrelinhas
teias de segredos
improváveis de decifrar
mescla entre real e imaginário

variáveis as vertentes
alimentam-se de si mesmas
num processo de recriar-se
contemplam a eterna sede de existir


In Tessituras e Tramas , Editora Verve, 2013
Ianê Mello.

Quem se interessar em adquirir um exemplar basta acessar o link:
http://www.livrariareliquia.com.br/tessituras-e-tramas.html

* Foto de Felipe Abrahão Monteiro no Pelada Poética No Leme.

sábado, 19 de outubro de 2013

QUE O SILÊNCIO ME VALHA



Encantar serpentes com palavras
Ofício por demais engenhoso
Voláteis, impactantes palavras
Presas de uma teia de enredos
Perdidas entre seixos de pedras
Escorregadias ao toque das mãos
Fugidias, ambíguas, cortantes
Penetrantes, pungentes
Enquanto vivas e despertas
Esmaecidas em seu brilho
Quando a esmo pronunciadas
Palavras cansadas
Enfraquecidas pelo uso
Numa fraca eloquência
Sem propósito ou valia
Que o silêncio fale por elas
Quando a boca se cala
Que o silêncio seja bendito
Preenchendo o vazio de sons


Ianê Mello

(18.10.13)

*
Pintura de Rene Magritte

terça-feira, 30 de julho de 2013

PRENÚNCIO




Penumbra...
sombras arqueadas
vertigens do dia
silêncio...
vozes inaudíveis
sentires, tremores
vida que se esvai
gotas de melancolia
derramadas
sonhos dispersos
olhar que prescruta
escuridões submersas
sons habitados
no vazio
noite que avança
pela madrugada
em tons púrpuras
sentir é preciso
rasgar a carne
sangrar a ferida
rosa de espinhos
cravejada
macias pétalas
rubras
inevitável ferida
será assim a vida
esse prenúncio da morte?



Ianê Mello

(30.07.13)

*

 Fotografia de Amber Ortolano .

*
Poema inspirado em Jean Michel Jarre - Rendez-Vous 1986 (Full Album)


sexta-feira, 31 de maio de 2013

RAPTO NOTURNO





Era perto da meia-noite. Lembro como se fosse hoje. Eu tinha 7 anos e era véspera do meu aniversário. A campainha de casa tocou e ninguém podia supor quem seria tão tarde da noite. Era meu pai... parecia meio transtornado, não bêbado, pois ele não bebia, mas bastante nervoso. Invadiu a sala, apesar dos protestos de minha mãe, assustada e aturdida. Foi até o meu quarto. Eu dormia inocentemente, como só as crianças dormem, e ao sentir seus braços a me levantarem da cama, despertei assustada. O que se passava? O que ele estaria pretendendo fazer? Ele disse, percebendo minha apreensão ” fique tranquila, vim te buscar” e enrolando-me no lençol, carregou-me nos braços, passando apressadamente  pela minha mãe, que parecia estar em estado de choque, tomada pela surpresa. Independentemente de seus protestos, dirigiu-se para a porta, descendo a escadaria com um certo cuidado, afinal me carregava em seus braços, e nem era um homem forte, muito menos jovem. Parecia estar imbuído de uma vontade inabalável, nada o faria desistir de sua decisão: tirar-me da casa de minha mãe, aonde até então eu vivia desde a separação dos dois. Estava tão absorto em seu objetivo que sequer percebeu que eu chorava baixinho. Acho que naquele momento me senti raptada pelo meu próprio pai. Sensação por deveras estranha. Minha mãe, finalmente se recuperou do choque e começou a gritar, o que despertou parte da vizinhança que começou a se empoleirar nas janelas de seus apartamentos para ver o que acontecia. Mas ninguém nada fez. E ele seguiu comigo em seus braços, até chegarmos ao táxi que nos esperava. Eu não disse uma palavra sequer... não conseguia articulá-las, estava tomada de uma sensação muito estranha e indecifrável. O primeiro amor de uma menina é seu pai e eu o amava, como era de se esperar. Mas me sentia confusa, pois achava o que ele tinha feito errado e não conseguia compreender o que o levou à uma atitude tão drástica. Claro que compreendia o quanto ele devia sentir a minha falta, bem como eu sentia a dele, mas tudo poderia ter sido conversado entre nós e com o consentimento de minha mãe, uma vez  expresso meu desejo, eu teria ido morar com ele . Assim, acabariam as noites sacrificadas em que ele ia visitar-me depois de um longo e cansativo dia de trabalho. Nas noites em que sentado à escada ao meu lado brincávamos de escola. Eu, a professora, ele, o aluno atento. Sim, eu era capaz de compreender o quanto isso era difícil para ele, um homem que já tinha uma certa idade, embora gozasse de perfeita saúde e tivesse muita disposição.  Estava no banco detrás do táxi e pude ver parcialmente seu rosto. Estava lívido. Apesar de tudo, tive pena dele nesse instante, pois talvez essa fosse a forma que ele encontrara de demonstrar o quanto me amava. O amor pode ter formas estranhas de se expressar e isso a vida começara a me ensinar naquela noite.


Ianê Mello

(01.02.13)


*
Arte de Ben Newton


terça-feira, 28 de maio de 2013

APANHADOR DE SONHOS




A utopia está lá no horizonte.
Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.


Eduardo Galeano




Tudo passa
A tristeza contida
A vida oprimida
Comprimida 
em desenganos
em desafetos

Mas tudo passa
O s amores perdidos
Os carinhos sentidos
As lágrimas derramadas

Continue o caminho
Pés cansados
Corpo suado
Alma inquieta
Mas prossiga...
Não pare!

Caminhar é preciso
às pessoas de bom senso
Viver não é preciso
É impreciso
É tortuoso
É inconstante
É um sobe e desce sem fim

Mas o que vale, meu amigo
É a esperança que brilha
É a beleza do encontro
E a persistência de ser
Hoje e sempre
O apanhador de sonhos.


Ianê Mello



(28.05.13)

*

Pintura  de Ferando Centeno.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

ESCREVER É PRECISO



No branco do papel a espera muda
num acordo tácito e cerimonioso
Palavras suspensas no vento
em malabarismos de um poeta ensandecido
Escrever versos sem demora é preciso
livrar-se da agonia do silêncio que apavora
Escrever para libertar palavras inexatas
ou quem sabe prenhas de um novo sentido
Escrever para desafiar a métrica
numa lógica enlouquecida que desperta
numa falta de sentido que reclama
que em versos desconexos se derramem
sentires de dolorosa intensidade
mas o peso das palavras adverte
na falta de tato com o verbo
na ausência do tudo que preenche
por toda uma vida
ou num breve instante
Enquanto a mão repousa placidamente
e em sua própria inércia adormece



Ianê Mello

(23.05.13)

*
Arte de autoria desconhecida 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

AMOR QUE SE REVELA



De amargo fel  tornou-se doce
O amor transmutado em puro mel
E amantes ungidos como se fosse
A magia do encanto em carrossel

Lampejos de criança enaltecidos
Em brincadeiras de terno amor
Corpos em descanso adormecidos
Em regadas noites de frêmito e torpor

Poderiam imaginar-se assim vencidos
Entregues ao abandono do prazer
Na alma de afeto enaltecidos
No corpo a delícia do viver

Em promessas sem receios sussurradas
Elegias ao afeto desbravado
De distâncias e temores apartadas
Vislumbres de um horizonte tão sonhado



Ianê Mello

(22.05.13)


*
Arte: Alex Almany

terça-feira, 21 de maio de 2013

ALUMBRAMENTO




Assim meio sem graça
Me quedo em súplicas
Vertigens de uma alma inquieta
Protejo meus olhos as furtivas lágrimas
Na inquietude do olhar que brilha
E já se enamora do que em beleza resplandece
Busco no ardor do momento eterno
Banhar-me em azuis de firmamento
Em luzes tênuas na retina vislumbro
O que de certo um dia escapou de súbito
E no lampejo do que alumia me perco
Em encantamentos de pura alegria
Em refugos de paixão abandonada
Aos braços amados me entrego em prece
Adornando a vida em sonhos rememorados
Salpicados ternamente pela espera


Ianê Mello


(21.05.13)


*
Pintura de Eduardo Argüelles


domingo, 5 de maio de 2013

APENAS OUÇA





Não, não tires de mim
palavras não ditas
Queres adivinhar o que penso?
Deixes que eu te diga
as palavras certas
e apures teus ouvidos para ouvi-las
Não tires conclusões apressadas
não deturpes em tua mente
minhas palavras
Elas são minhas pois que delas
Apoderei-me ao pronunciá-las
Se não queres me ouvir,
se não te calas por dentro,
como podes compreender
meus sentimentos?
Como podes julgar
minhas intenções?
Teu coração de pedra embrutecido
é meu desalento
fazes-me chorar por dentro
lágrimas em sangue vertidas
pois apunhala-me com tua ira
com tuas palavras nefastas
com o falso orgulho com que
te defendes
Tires tua armadura fora
e sejas gente
Me encares de frente
e enfrentes o medo
Enquanto ainda é tempo
Enquanto ainda há tempo
De tentarmos ser felizes.


Ianê Mello
(23.04.13)

*

Pintura de Klint.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

SE ASSIM FOSSE


se esse ar que me falta
me tomasse de assalto
olhos, pele e pelos
seria como música
aos meus surdos ouvidos
seria como pintura
aos meus cegos olhos
pois se de amargo fosse doce
a vida numa mesura
seria como se fosse
de uma beleza pura


Ianê Mello

*
Pintura de Toulouse Lautrec


Publicado originalmente em 07.11.09.

sábado, 27 de abril de 2013

TENDO A NOITE COMO COMPANHIA




No silêncio de minha sala vazia
ecos de lembranças
permeiam minha memória
na noite que avança
na solidão das horas
no tique-taque do relógio

flashes de minha vida
em imaginária projeção
passeiam ante meus olhos
fitos na parede nua
entre a vigília e o sono

meu corpo recostado no sofá
num plácido repouso
sem desejos além do descanso
a boca num silêncio mudo
emudecido de palavras...

o que fora é silêncio
grita dentro em mim
coisas que só eu escuto
inaudíveis a ouvidos estranhos
incompreensíveis para muitos

sou eu mesma minha cúmplice
minha única parceira
nessas horas de torpor
entregue a intensos sentires

Assim, mais uma noite se passa
e a ela me entrego mansa
meu refúgio
meu abrigo
até o amanhecer de um novo dia.


Ianê Mello

(22.04.13)


*
Pintura de Adrian Gottlieb

quinta-feira, 25 de abril de 2013

TEMPO DE INOCÊNCIA



Como brincadeira de criança
menino, menina, 
no doce encontro
movido pela inocência

olhos de sonhar mundos
mãos de descobrir formas
sorrisos de clarear o dia

correm campos
cheiram flores
colhem frutos

e na relva fresca se deitam
enquanto o sol 
no alto brilha
e a natureza é pura festa



Ianê Mello
(16.04.13)



quarta-feira, 24 de abril de 2013

NO COMPASSO DA ESPERA





Que seja lento
Tanto quanto breve
Que seja riso
Tanto quanto pranto
Que seja luminoso
Tanto quanto noite

Que seja raro
Tanto quanto comum
Que seja verdadeiro
Tanto quanto ilusão
 Que seja por inteiro
Tanto quanto metade

Mas que seja vida
Que espanta a morte
Nesse desassossego
Preenchido encanto
Transbordando em gostos
Tão demorada espera.



Ianê Mello



(22.04.13)



*

Pintura de Jane Ansell.





terça-feira, 23 de abril de 2013

ALMA LIBERTA




Ler descortina universos
seja em prosa, seja em versos
é magia e encantamentos
o mundo em letras revelado
para olhos que atentos
sorvem cada palavra
e em sonhos emprestados
a imaginação cria asa
voando ao sabor dos ventos
enquanto o corpo em casa
preso a realidade permanece
a alma aturdida desvanece
em momentos de pura alforria
e do mundo lá fora se esquece
em vidas de plena fantasia


Ianê Mello

(23.04.13)


*
Pintura de Charles Edward Perugini





domingo, 21 de abril de 2013

O PULSAR DA VIDA




Sempre é tempo de renascer
acreditar que é possível
uma nova manhã
um novo recomeço

A cada dia o sol brilha
mesmo que por detrás das nuvens
ele lá está...

Sempre é tempo
quando a vontade não é arrefecida
quando o medo é enfrentado
quando os sonhos retomam seu lugar
quando se vê com um novo olhar

Assim, a alma se regozija
e o encanto de viver recupera seu espaço
e do tempo que ficou prá tras perdido
resta apenas a lembrança do aprendizado

Viver pode ser bom
e não apenas um vício.


Ianê Mello.

(21.04.13)

*
Crédito: Imagem do google 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

FEMININAS SUTILEZAS





Escorre mansa
Lânguida serpenteia
Fértil em sua origem
Desabrocha encantos
Tantos a cobiçam
Poucos a possuem
Mulher de poucas intimidades
Recatada em meandros
Enredada em teias sutis
Beleza que se distingue
Em olhares esquivos
Gestos comedidos
Numa altivez de quem teme
Ao amor render seus desejos
No véu que a encobre
Aguarda pacientemente
O homem que virá
E com a delicadeza de um cavalheiro
Pousará nela seus olhos
E através do véu verá
A fêmea que nela se esconde
E com dedos de veludo
Revelará o amor até então resguardado.


Ianê Mello

(18.04.13)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O JOIO DO TRIGO




Há que separar o joio do trigo
O fruto bom do apodrecido
O supérfluo do necessário
O homem honesto do salafrário

Há que separar o direito do avesso
O ciúme do apreço
A paixão do amor
A honestidade do falso pudor

Há que separar o verdadeiro do falso
O bem calçado do descalço
O real desejo da luxúria
O lado animal da criatura

Há que separar o falso brilhante da jóia verdadeira
A sobriedade da bebedeira
O erro do ledo engano
O supostamente sagrado do profano

Há que separar a liberdade da prisão
A mão direita da contramão
O verdadeiro amor da obsessão
O verdadeiro sim e o disfarce do não


Ianê Mello

(16.04.13)

 *
Pintura de Millet





terça-feira, 16 de abril de 2013

LUTEMOS PELA PAZ




Nesse mundo de guerras, injustiças e preconceitos
perdidos estamos nos descaminhos do amor
A cada mão levantada, a cada arma empunhada, a cada agressão
mais nos afastamos de nossa verdadeira essência,
de nossa humanidade, decência e sentimento de compaixão
Quanto tempo perdido com tamanha destruição!

Nos tornamos autômatos, inertes e sem coração
Robotizados estamos, prisioneiros do tempo
Vivemos nossa vida a esmo
Vivemos apenas para nós mesmos
e esquecemos o nosso irmão

Construímos nossa própria prisão
num castelo de ruínas
onde nos escondemos do mundo,
onde nos perdemos cada vez mais
num caminho sem volta

Nos protegemos uns dos outros
por medo da entrega
por medo da decepção
e cada vez mais nos fechamos
dentro de nós, em nosso esconderijo próprio,
onde nos sentimos protegidos
e livres de ameaças externas

E para onde vamos nós
encarcerados em nosso próprio medo?
Quanto tempo mais aguentaremos esse isolamento?
Já paramos para pensar que o ser ao nosso lado
também sente o mesmo que nós?
Já ouvimos no outro a nossa própria voz?


No olhar desesperançado,
no semblante contraído,
na boca emudecida pelo silêncio,
ouvimos nosso próprio gemido?


Somos iguais, sentimentos e emoções
Então, porque não unirmos nossas vozes,
nos olharmos nos olhos,
compartilharmos nossas dores?

Ainda há tempo, quero acreditar
Se você também crê, vem...
me dê sua mão e vamos caminhar
Vamos nos unir e construir um mundo
onde seja permitido ao menos sonhar.


Ianê Mello.

( Publicação original em 31.12.2009)

domingo, 14 de abril de 2013

ACORDA BRASIL!!!




Não, eu não posso, não quero e não vou me calar!

Precisamos fazer ecoar as vozes das minorias, dos enjeitados, dos discriminados, dos subjugados, dos sacrificados em nome de um suposto progresso. Camuflar a realidade que vivemos em nosso país é o papel que tem assumido as autoridades governamentais.
Temos que bradar contra essa atitude covarde e tendenciosa dos que detêm o poder, que só demonstram, a cada ação, lutar por seus próprios interesses, e não em prol do nosso povo.
Não, não podemos e não devemos nos calar! Precisamos tocar nas "feridas" da nossa sociedade. As mazelas não existem para serem escondidas debaixo do tapete, para que os turistas não as vejam e para que o cidadão brasileiro mais abastado não seja forçado a conviver com elas, mas sim consideradas e avaliadas com humanidade, procurando-se formas de resolvê-las. Não vamos nos omitir e nos calar frente as atrocidades cometidas contra a nossa população, índios e moradores de rua. Todos somos cidadãos e temos os mesmos direitos.

Há que se respeitar os direitos dos cidadãos, independentemente de crença, condição social, cultura, etnia ou opção sexual. A população de rua não pode ser excluída como se fosse um estorvo, um entulho, sendo removida e alojada em abrigos com problemas de superlotação e insalubridade, além da presença de pacientes psiquiátricos sem atendimento adequado. São seres humanos, cidadãos como nós, com seus direitos usurpados, que passam privações da pior espécie.
Há que se respeitar os índios em suas justas reivindicações, dando-lhes condições de moradia e respeitando a sua cultura e não tratado-os com total desconsideração e desumanidade como se fossem bandidos que precisam ser punidos, apenas por terem uma cultura e necessidades diferentes do homem branco.
Não se descarta seres humanos como se fossem lixo, varrendo-os para debaixo do tapete, com a clara intenção de escamotear uma triste realidade em que se encontra o nosso país, ignorando as reais necessidades dessas classes sacrificadas que, em manifestações pacíficas clamam por justiça social com a única arma que possuem: a palavra.
Há pessoas que se surpreendem e perguntam: Mas o que eu posso fazer?
Ora, meus amigos, o mínimo que podemos fazer é juntarmos nossas vozes a esses que clamam e em uníssono, manifestarmos através de palavras e atos, o nosso repúdio a tais medidas. Participando de manifestações públicas, utilizando os locais a que temos acesso para mostrar nossa indignação: a internet, o facebook e outros meios de que possamos dispor. Isso é fazer a nossa parte, mostrando nossa indignação e solidariedade. Não vamos simplesmente cruzar os braços e nos omitir, pois estaremos compactuando com tais atitudes. Não esqueçamos nunca que poderíamos estar no lugar dessas pessoas.

Acorda Brasil!!!
Pelos direitos humanos!!!
Por uma sociedade mais justa!!!


Ianê Mello
(14.04.13)

sexta-feira, 12 de abril de 2013

APENAS MAIS UM




A cada dia ao despertar
a vida me sorri
pena que nem sempre
meus olhos estão atentos
meu corpo disposto
minha alma descoberta
e tudo que vislumbro
é apenas mais um dia
que nasce 
e deixo morrer
sem viver

Ianê Mello

*

Fotografia deAnka Zhuravleva

terça-feira, 9 de abril de 2013

EM NÓS




A chuva cai mansa
minha inquietude amansa
deixo tudo pra depois
ao recolhimento me entrego
momentos só de nós dois

Em dias de chuva assim
chove dentro de mim
vontades de aconchego
eu e você num chamego
na cama entrelaçados

Nossos corpos imantados
pelo amor já saciados
descansam num doce abraço
e assim eu me refaço
na completude do amor


Ianê Mello
(03.04.13)


*
Pintura de Toulouse Lautrec