segunda-feira, 12 de setembro de 2011

UM HOMEM COMUM





Amassava a massa com o vigor de suas mãos calejadas e fortes, acostumadas ao trabalho duro. Mãos de homem, como sua mãe lhe dizia. O suor a escorrer-lhe sobre a fronte morena, ardendo-lhe os olhos, quando uma gota dentro deles caía. Pele morena castigada pelo sol do dia a dia. Músculos fortes e bem  torneados  se faziam perceber por debaixo da camisa suada que grudava em seu corpo como uma segunda pele. Era um belo homem! Um pouco maltratado pelo trabalho pesado de sol a sol, o que lhe dava a aparência de mais idade, mas que conservava belos traços e olhos negros como a noite. Passou as costas da mão na testa retirando o excesso do suor que gotejava. Já eram quase seis da tarde e o sol ainda queimava a pele. Era verão e fazia muito calor. Poderia estar a essa hora num escritório com ar condicionado, trajando um belo terno, com a secretária a servir-lhe uma xícara de café. Mas será que isso seria vida para ele? Não negava as vezes refletir sobre essas questões, como é normal a qualquer ser humano. Mas não encontrava a resposta e por fim desistia de pensar, afinal, a necessidade lhe impusera esse destino, não tivera outra escolha. Para que pensar então, se nada mudaria?
Era um homem inteligente, que tivera um certo estudo, mas perdera o pai cedo e teve que assumir as despesas da casa, não podendo levá-lo adiante. Assim, largou os estudos incompletos e procurou por trabalho, pois tinha que sustentar a mãe e sua irmã mais nova. Moravam numa cidade do interior em condições já bem difíceis, mesmo com seu pai ainda vivo. Como seu pai trabalhava em construções, o caminho mais fácil  foi seguir seus passos, substituindo-o de início numa construção já em andamento na qual ele trabalhava até a ocasião de sua morte. E assim continuou dali para adiante. Tornara-se um bom operário e era constantemente requisitado. Ainda foi a sua sorte, pois era o seu ganha pão e de sua família. Dava para o sustento, nada além disso. Mas sentia orgulho de poder fazer isso pelos seus. Não deixaria que passassem fome ou não tivessem um teto para morar. As obras necessárias na modesta casa, ele mesmo fazia e assim a mantinha em condições habitáveis.
Perdido em seus pensamentos nem percebeu o tempo passar. Já escurecia.
"Bem, por hoje é só"- pensou enquanto via seus companheiros um a um se preparando para ir embora. Mais um dia que se foi ou seria menos um dia? Bom, dá na mesma.- sorriu consigo."
Foi para casa caminhando. Já anoitecia e uma brisa suave percorria-lhe a pele suada, trazendo-lhe um alívio refrescante. Iria para a sua casa e seria recebido com alegria pela sua mãe e irmã, com um bom prato de comida a sua espera, depois de um bom banho gelado. Depois, uma cama limpa para descansar seu corpo fatigado. Do que poderia enfim reclamar?  Tinha muito mais que muitos, não? Tinha uma casa, comida, roupas limpas e não estava só.
Avistou a luz da casa acesa e viu a sombra de sua mãe a porta. Sorriu satisfeito.
O pouco pode ser muito quando se dá valor ao que se tem, ele sabia bem disso.


Ianê Mello



3 comentários:

Dilmar Gomes disse...

Amiga Ianê, escritora de talento, eu gosto de ler-te.
Um grande abraço. Tenhas uma linda semana.

Ianê Mello disse...

E eu , amigo, fico muito feliz com sua leitura sempre atenta e presente.
Grande abraço.
Paz e luz.
Namastê!

Tania regina Contreiras disse...


Os pequenos grandes momentos da vida: belo texto, Ianê!

Beijos