com as mãos sobre o colo sentada naquele divã um profundo
sentimento de estranheza toma conta de
mim e a vontade que tenho é sair correndo dali sem pestanejar mas a consciência
me impede e distraidamente pouso os olhos nas paredes brancas com alguns
quadros dependurados que me fazem lembrar a visita que fizera recentemente a
galeria de artes que era por sinal uma
de minhas distrações prediletas e sinto meu rosto corar quando me deparo com o
olhar inquisidor do terapeuta a minha frente esperando que eu desse inicio a
sessão o que com certeza eu não tinha a menor vontade de fazer porque hoje me
sentia esvaziada de palavras mas sabia que quanto mais eu demorasse mais me
sentiria constrangida e seria dinheiro posto fora coisa que eu não poderia me
dar ao luxo assim como também em anos de terapia aprendera que essa resistência
de minha parte significava algo importante que estava submerso representando
material de primeira a ser trabalhado em terapia e tudo o que tinha a fazer era
dizer a primeira frase que depois o resto fluiria como um rio caudaloso e o
tempo passaria a ser pouco para extravasar uma torrente de emoções que
aflorariam o que traria em mim um arrependimento por não ter começado logo a
falar e assim pensando não me demorei nem mais um segundo e só me dei conta que o tempo
havia terminado quando meu terapeuta olhou discretamente o relógio em seu pulso
Ianê Mello
(13.01.12)
*
Pintura de Paulo Thumé
(13.01.12)
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Pintura de Paulo Thumé
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