quinta-feira, 25 de agosto de 2011

EU E OS OUTROS EUS





Há um outro que em mim se mostra
quando a noite cai mansa
Ele se debruça no computador e escreve
como quem não tem controle
as palavras fluem ao toque do teclado
minhas mãos são mero instrumento
que o servem sem questionar
e meus olhos são guias no branco da tela
vendo-a preencher-se em versos
Esse outro me surge de repente
a hora que ele deseja, sem pedir consentimento
me usa e abusa do meu corpo já cansado
me tira da cama já tarde da noite
e leva meu sono com falsos ardis
Que posso fazer se ele também sou eu
um outro eu dentre tantos outros eus
que me acompanham pela vida afora?
Pela manhã o outro eu reclama
pela noite mal dormida
não quer levantar da cama
e nela fica a rolar até novamente dormir
Quando o outro eu acorda
lamenta ter dormido tanto
já se foi toda a manhã perdida
Levanta cambaleante
os olhos semicerrados
enquanto o eu que dormia
não quer mantê-lo acordado
E entre eles se trava uma luta sem igual
enquanto meu corpo espera
para ver quem vence esse round.



Ianê Mello


Crédito de imagem: Pintura de Katerina Belkina

2 comentários:

Dilmar Gomes disse...

Amiga Ianê, gostei imensamente do teu poema. É uma maravilha ler as pessoas inteligentes iguais a ti. Tu já lestes o conto do Jorge Luis Borges "O Outro", se por acaso ainda não leu, leia-o; tu irás gostar.
Um grande abraço. Tenhas uma linda noite.

Ianê Mello disse...

Li sim, meu amigo. Gosto muito. Fiz uma homenagem a Borges no Livre Criar hoje. Se puder dá uma passada lá e participa com um poema seu.
Grande abraço.
Uma noite tranquila para você.